sábado, 26 de dezembro de 2009

NATAL


"...O Natal é um poema. Nele Deus se revela como criança. O Deus adulto é terrível: grave, sério, não ri, não dorme, seus olhos estão sempre abertos e nem mesmo têm pálpebras, jamais esquece, e registra tudo nos seus livros de contabilidade que serão abertos no Dia do Juízo para o acerto final de contas. O Deus adulto dá medo. Nele não há amor. Isso nada tem a ver com uma criança: criança é esquecimento, riso, brinquedo, um eterno começo… Não é por acaso que o Menino Jesus tenha fugido do Deus adulto.

Prefiro o Deus criança. No colo de um Deus criança eu posso dormir tranquilo."

Rubem Alves

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Carta ao menino Jesus


"Querido Menino Jesus:
Este ano comportei-me muito bem e, por isso, peço-te que faças o favor de me trazeres uma bicicleta nova.
Com um beijinho
Joãozinho"

Põe a carta debaixo da árvore de Natal e vê a imagem de Maria que, do presépio, olha fixamente para ele. Arrependido rasga a carta e escreve novamente:

"Querido Menino Jesus:
Creio que este ano me comportei bem;fazes o favor de me trazeres uma bicicleta.
Atentamente
Joãozinho"

Dispõe-se a colocar novamente a carta debaixo da árvore, quando observa que Maria continua a olhar fixamente para ele. Rasga de novo a carta e volta a escrever:

"Querido Menino Jesus:
Este ano não me comportei lá muito bem mas, se me trouxeres uma bicicleta, prometo comportar-me melhor no próximo ano.
Joãozinho"

Vai levar novamente a carta à árvore mas repara que Maria não retira os olhos dele.
Rasga outra vez a carta e desesperado, agarra a imagem de Maria e mete-a dentro de uma caixa que esconde em seguida.

Escreve de novo:
"Jesus:
Tenho aqui sequestrada a tua mãe. Se quiseres voltar a vê-la, deixa uma bicicleta debaixo da árvore de Natal e não vale a pena intentares chamar a policia Judiciária.
Joãozinho"

(Este texto foi recolhido de uma revista e o seu autor é João Manso)

domingo, 13 de dezembro de 2009

Dedicado à mãe Hiolanda

Pequeno poema

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais... Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Para que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe..
.


Sebastião da Gama

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sem ver

Passamos pelas coisas sem as ver

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

As Mãos e os Frutos
Eugénio de Andrade 1923-2005)

Luto contra esta falta de visão, este adormecimento de um olhar toldado pela rotina, pelo desânimo, pelo peso dos dias de tédio. Como passar por tanta coisa que nos pode estremecer de encanto, de deslumbramento e seguir com umas palas que só nos deixam ver os buracos do chão, o lixo. Até nas folhas caídas e pintadas pelo outono, apenas ver lixo...
Não haverá oftalmologista que nos valha! Chamem os poetas e a magia. Lavem o olhar...

sábado, 14 de novembro de 2009

Indisciplina inteligente

Numa aula de Língua Portuguesa

O aluno pergunta: - Stôra como é que o Camões ficou só a ver de um olho?

Professora: Não sei mas isso é irrelevante.

Aluno: eu não acho…estava aqui a pensar que se ele tivesse os dois, conseguia ver a folha de papel completa .Será que escreveria boa prosa?

Gargalhada geral.

O aluno foi mandado para fora da aula.

Eu que não estive lá, achei o máximo!

domingo, 8 de novembro de 2009

A autoridade dos professores

“Têm que restituir a autoridade aos professores”, é uma afirmação ou uma reivindicação caricata. Parece que a autoridade pode ser roubada, tal como uma carteira, perdida e encontrada num “serviço de perdidos e achados” ou oferecida como uma camisola confortável.

E, os mesmos sindicatos que reclamam do modelo de avaliação (sem apresentarem quaisquer modelos alternativos), enchem a boca com tal necessidade.

A ser o Ministério da Educação e a sua Ministra (cessante) os responsáveis por tal ausência, a solução seria fácil, bastaria publicar uma lei com o seguinte ponto:” O Ministério da Educação defende a dignidade de todos os professores, conferindo-lhes toda a autoridade no desempenho das suas funções docentes.”.

A questão da autoridade, quanto a mim, está a ser vista pela perspectiva errada. É no quotidiano escolar que essa autoridade é demonstrada. A autoridade pratica-se e, só assim, pode ser reconhecida. E, é nesse quotidiano, que eu tenho visto as formas mais ridículas de afirmação docente, de autoritarismo puro, não de autoridade! Lembrei-me, até, de sugerir à nova Ministra da Educação, conceituada escritora juvenil, de acrescentar uma nova obra à sua colecção “Uma Aventura…com a autoridade dos professores” . Cada dia a minha admiração aumenta face ao que presencio.

É evidente que a massificação do ensino, a denominada ESCOLA PARA TODOS no acesso (que, teoricamente, também o procura ser no sucesso), numa visão inclusiva, veio transformar a escola numa micro-sociedade complicada, mesmo não pretendendo aqui reflectir na integração das crianças com deficiências associadas. O desenvolvimento acelerado que se vive na sociedade ocidental conjugado com a globalização (do bom e do mau) invadiu-nos. É claro que as crianças/adolescentes que estão em processo de desenvolvimento e de educação, são seduzidas por tudo isto. Estão permeáveis a tudo e, ainda mais, ao que é apelativo. São aliciadas pela imagem, pelo despertar sexual e pelas experiências que lhes são propostas, pelas drogas que possibilitam alucinações, pelas novas tecnologias, pela música…

A escola está conceptualizada num modelo e num ritmo desajustados das vivências reais dos alunos.

Por vezes professores e alunos parecem ter códigos diferentes de comunicação. Não conseguindo comunicar, consequentemente há um afastamento por incompreensão.

É criado um fosso entre ambos de que resulta falta de confiança do aluno no professor. E essa barreira é terrível num contexto que se pretende de educação.

Ser professor hoje é muito exigente. Mas, se os professores se modernizam no aspecto, nos penteados e suas colorações, no vestuário, nos bons carros que adquirem, até na forma como constituem família, porque não se modernizam em novas atitudes, no bom relacionamento com os alunos, em formas criativas de abordar os conteúdos programáticos?

Dá trabalho, não dá? Requer empenho. Pois é! Esqueci-me disso! As futilidades são mais apelativas! Engraçado, porque também o são para os alunos!

A questão é que aos docentes é-lhes exigido que sejam agentes educativos. E sê-lo é sempre! Dentro das escolas também há os professores praticantes e os não praticantes, tal como nas religiões. Até há os fanáticos! Mesmo assim, os praticantes são poucos, mas são aqueles que seguindo objectivos têm um propósito profissional, são-no em qualquer espaço do estabelecimento escolar. São-no quando sobem e descem escadas, quando vão para a fila do refeitório, quando utilizam os sanitários, quando conversam nos corredores, quando se relacionam com o pessoal auxiliar, quando estão na Biblioteca. Esses são professores em todos os espaços porque em todos eles sabem interagir positivamente com os alunos e são exemplo de posturas correctas. Não precisam de falar muito! Basta-lhes actuar com coerência, firmeza, dignidade e interesse. E estes é que têm autoridade. Quem lhes deu essa autoridade?

Eles próprios.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Três Cantos...no COLISEU do Porto


Três Cantos: mais duas oportunidades para ver José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto -

Concerto ímpar! Delicioso!...Grandes vozes, poderosas, sonantes, tocantes e provocantes.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

"Viagens na minha terra" sem Garrett, com Cleto...


- Mãe, sabes quem vi no autocarro?
- Não!
- O Joel!
- O Joel? Em que autocarro?
- Em muitos!
- Como?!


Pois o Joel, meu priminho, "passeia-se" pelos autocarros do Porto. A razão é a publicidade a um programa televisivo, por ele conduzido. Recomendo-o...
Sobre isso escreveu o próprio:
"5ª feira, 29 de Outubro, 23 horas - 3º episódio de "Viagens na Minha Terra". A linha de eléctrico nº1, de Massarelos a S. João da Foz. Uma viagem até às origens do Renascimento em Portugal. Sim! Porque o farol de S.Miguel-o-Anjo e a igreja de S. João da Foz (no interior do Forte da Foz) são as mais antigas co...nstruções renascentistas do país. E pelo meio do episódio ainda há referências às centrais termo-eléctricas da Arrábida e Massarelos, ao edifício modernista dos "Frigoríficos de Peixe" e à Ponte da Arrábida. Repete no sábado às 16h e no domingo às 20h. No canal 13 da TV Cabo."


domingo, 18 de outubro de 2009

Uma tristeza de morte

A tristeza faz parte da nossa vida, como muitos outros sentimentos. Direi que temos uma salada de frutas de sentimentos, e esses sabores misturados, de tão diferentes que são, tornam-nos humanos com algum sentido e equilíbrio. Mas, ter uma tristeza residente será igual a ter uma única fruta que vai azedando. E, à nossa volta quanto azedume sentimos! São sobretudo as pessoas mais vividas que guardam uma amargura que as vai corroendo de uma tristeza que se torna dor e depressão. Dirão que a vida lhes foi difícil, repleta de maus momentos, de azar, de maldade. Possivelmente até foi.

Hoje os meus pensamentos andam perdidos em torno de uma tristeza que poderá ser genética, química…

Tenho uma dificuldade enorme em ver pessoas tristes e deprimidas. Mas ver uma criança triste é desolador! É quase como não acreditar no futuro.

Distimia é uma doença do humor, uma depressão crónica em que a pessoa em causa apresenta baixa ou nenhuma auto-estima; sente-se desmotivada; tem falta de esperança, é negativista e por vezes tem pensamentos suicidas e pode apresentar comportamento agressivo ou irritantemente passivo.

Conheci uma menina linda, com esta doença. O seu rosto transparece uma tristeza enorme, onde não há brilho no olhar nem sorrisos nos lábios. Uma timidez imensa cobre-a de insegurança, limitando-lhe as palavras, tornando-a aparentemente apática.

Como compreender isso numa adolescente bonita, de corpo saudável? È terrível, creiam-no!

Que um velho desanime e perca a alegria, ainda consigo compreender mas, uma criança triste, traz a morte no olhar, choca de tão incompreensível.

Em momentos assim, agradeço a Deus as gargalhadas sonantes da minha filha, os sorrisos rasgados do meu filho e o meu bem estar. Tenho uma alegria estruturada dentro de mim que não quero nunca perder. Mesmo que tudo seja triste, que o desânimo me invada, continuo a sonhar, a acreditar, a rir e a brincar.

sábado, 10 de outubro de 2009

Votar no Porto

«O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias
Sophia de Mello Breyner


Amanhã votarei em consciência numa esperança para o meu Porto. Uma esperança com rosto feminino!

sábado, 5 de setembro de 2009

"Há votar e botar, há ir e ficar"

Quem vê televisão, regularmente, tem a opção de assistir a entrevistas e debates em que os candidatos às próximas eleições legislativas, apresentam e defendem ideias, ideais, propósitos e também despropósitos. Sente-se já este momento democrático em que todos somos chamados a participar e, que privilégio!

Mas, ver esses debates não chega.

Embora portuense sei distinguir bem a diferença entre Votar e Botar. Ora se botar é um verbo utilizado mais popularmente para o acto de deitar, colocar, votar é um acto de escolha consciente. Eu temo que muitos botem o voto e não votem de verdade. E, essa atitude irreflectida levará a uma consequência socialmente sentida por todos. Todos, mesmo aqueles que vivem a democracia de forma amorfa, sem qualquer tipo de preocupação que não seja o viver a sua vidinha egoísta e falar, falar…Qual votar qual quê!

Após a época balnear em que durante muitos anos se ouvia “Há mar e mar, há ir e voltar”, veio a época eleitoral em que “Há votar e botar, há ir e ficar”.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Place du Tertre

Há locais emblemáticos...La Place du Tertre, em Paris é daqueles locais com história, tradição e pitoresco à mistura. Os anos vão passando e a Praça vai sendo visitada
de geração em
geração, continuando preenchida de encanto, telas, tintas, lápis, cavaletes, pintores, retratistas, modelos...
Tinha 12 anos quando nesta mesma Praça, obtive o meu retrato desenhado...34 anos depois eis-me de novo no mesmo lugar acompanhada da minha filha...agora é a sua vez...

domingo, 9 de agosto de 2009

Raul...ao luar

Há pessoas públicas que enchem tão de perto as nossas vivências que quase as achamos familiares.
E construímos uma intimidade unidireccional...Sabemos tanto delas!...desenvolvemos um afecto virtual mas real. Pois, Raúl Solnado é uma dessas figuras que recolhemos na nossa intimidade doméstica. Conheci-o pequenina, com 5/6 anos...através da janela que se abria na sala de estar da minha casa, para o mundo a preto e branco da RTP. Tive,também, o grande prazer de o ver representar ao vivo...
[a+raul+solnado+2.jpg]
(retirado de um Blog de Almada)
A notícia da sua morte causou uma enorme angustia em todos nós...
Que mais dizer?...Viveu e fez-nos viver momentos de alegria. O seu sorriso invulgar, de menino com olhos pequeninos achinesados é enternecedor. Partiu...fica o luaR com o seu nome e o seu encanto!

domingo, 26 de julho de 2009

Uf...Férias!

On part demain matin ...Nous allons à Paris!

sábado, 18 de julho de 2009

Virtudes...
Pois...
Este sábado foi uma virtude...
Há muito que não deambulava a pé pelo centro da minha cidade - o Porto. Sempre que a percorro fico desanimada. Em vez de beleza e encanto tenho visões feias...mesmo tristes!
Então para não encarar a realidade confesso que deixei de percorrer o meu Porto desabitado.
Em tempo de nevoeiros, de chuva miudinha, o cinzentismo parece encobrir as más visões. Mas, a claridade de verão desnuda a cidade, realça tudo!
Mas hoje, desafiram-me...
Conheci um recanto bonito e bem cuidado. Nem sei se o divulgue, se o guarde só para mim. Quando o descobrirem vai ser invadido de lixo e grafittis. O Porto está habitado de marginais e dasabitado de gente.
Esse recanto simpático é o Jardim das Virtudes...





Jardim das Virtudes

Morada: Calçada das Virtudes (por detrás do Palácio da Justiça). Se outras não tivesse, este jardim tem a grande virtude de se situar numa zona nobre da cidade: o Centro Histórico.
Localizado numa encosta, oferece uma vista ímpar para o Douro.
(do site da C.M.Porto)


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Música fora de Casa

Vindo o Verão, a Casa da Música (no Porto) espraia-se pelo espaço exterior. Parece-se, com as devidas diferenças, com alguns cafés, que passam a ter esplanadas!
Pois no sábado, estive por lá a saborear Amélia Muge.

"A sua música junta tradição e inovação. Partindo da música tradicional portuguesa e africana para alcançar uma grande modernidade. Recorrendo tanto a instrumentos tradicionais como a "novas tecnologias" nessa busca de inovação. A música da Amélia Muge destaca-se também pela beleza das letras das suas canções. Ela tem musicado tanto poemas da sua própria autoria como poemas de vários poetas da língua portuguesa, onde se destacam Fernando Pessoa e Grabato Dias, sem esquecer os poemas de origem tradicional." (Wikipédia)

A segunda parte do espectáculo foi servida em brasileiro...

Siba e Fuloresta

Vindos de Pernambuco, este grupo com o nome sugestivo de FULORESTA , cativou pela forma agradavel com que Siba, mestre da nova geração de ciranda (dança e música de Pernambuco) e maracatu (ritmo musical afro-brasileiro)cantou e versejou apresentando uma linguagem inovadora e pessoal.

Nascido na cidade cosmopolita do Recife, cresceu entre a cidade e o interior. Após viver em São Paulo sete anos, voltou para Pernambuco em 2002 para iniciar este grupo, formado por músicos tradicionais de Nazaré da Mata.

Hum! que música curiosa!...Não sei porquê, lembrei-me do cantar ao desafio.

Há noites assim, de uma quentura de alma, que só eu sei!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Poema para uma despedida ...

Tive que me despedir de uma equipa...venho aqui partilhar essa despedida...


Impressão digital

Os meus olhos são uns olhos,
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos,
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos, diz flores!
De tudo o mesmo se diz!
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente!

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!


António Gedeão in "Movimento Perpétuo", 1956

Ver sozinho, é empobrecedor. Partindo dos múltiplos olhares de cada um, podemos ver muito mais e mais longe. Basta termos no olhar, essa vontade de construir e o positivismo para ver.

Apesar de todos os problemas, do ano complicado que vivemos, foi, para mim uma ano de novas visões.

Eu vou mas que fique uma equipa de olhares cruzados num objectivo comum.


segunda-feira, 22 de junho de 2009

Festas Populares

Não sendo devota de nenhum santo, elegi três Festas de Santos Populares.
Muitos se escandalizarão com tamanha revelação. Pois, desde sempre que estas festividades são muito mais profanas do que religiosas. É no profano que eu entro!


Nascida no Porto, educada por Tripeiros, convivendo maioritariamente com portuenses, não podia viver alheia a uma festividade como a noitada de S. João em que o povo saía à rua com alhos porros e martelinhos. As ruas da baixa e das zonas típicas enchiam-se de gente que corria alegremente, saltava fogueiras e nesse corropio eufórico, batia na cabeça de quem calhava com os ditos alhos, martelinhos e martelões!...No ar o aroma a manjerico e a mistura de odores das plantas com o dos fritos das farturas, do algodão doce e das sardinhas. E tudo sabia bem, até o orvalho da noite!...complementado com o fogo de artificio, era, para mim, uma festa perfeita. Digo era, porque já não percorro as ruas como outrora! Uma boa sardinhada com amigos sabe-me melhor!

Em criança, por alturas de Junho, costumava passar algum tempo com a minha tia Mira, que me levava à praia de Matosinhos. Ela falava-me do Sr. de Matosinhos. Por vezes trazia-me lembranças do recinto da festa...loucinhas pequeninas de chapa e de barro. Ora o que me havia de acontecer?! Passados muitos anos fui colocada numa escola em Perafita, concelho de Matosinhos. Lá trabalhei 14 anos! E, embora não tenha nada contra o santo padroeiro de Perafita - o S. Mamede, o Sr. de Matosinhos cativou-me pela sua lenda. E eu, que sempre me deslumbrei com o mar, passei a achá-lo ainda mais bonito...Nunca deixei de passear pelas barraquinhas de venda junto à Igreja do Bom Jesus e, sempre que possivel assistir a concertos. A Igreja ficava deslumbrantemente decorada.


Mas, só quem anda apático no mundo não descobre beleza... Do mar vim para a serra. E como gosto de lhe chamar Cuca- Macuca! É muito mais sonante com este nome do que com o de Santa Justa.
Pois Sobrado fez-me reencontrar o S. João. Esperava eu uma festividade similar à do Porto quando me deparo com um linguajar próprio associado aos rituais sanjoaninos da região - BUGIOS e MOURISQUEIROS. Confesso-vos que fiquei rendida a esta bela festa. Ir no dia 24 a Sobrado é entrar na história lendária e ser actor. O colorido é deslumbrante e a forma como os sobradenses vivem a festa é contagiante.

Três festas...uma por herança, duas por vivência, todas por afecto!

sábado, 20 de junho de 2009

Felicidade...

Hoje sinto-me feliz!...Sou assim mesmo, após um grande esforço, uma dedicação desmedida a algo, colhendo o seu sucesso, fico enormemente realizada.
Hoje pensamentos sábios como os de Fernando Pessoa, fazem todo o sentido:

"A Felicidade exige Valentia",

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não
esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela
vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.·
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no
recôndito da sua alma.·
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da Vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."


Fernando Pessoa

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Góis

Com mais de oito séculos de existência, a Vila de Góis está situada a cerca de 40Km de Coimbra, num vale estreito e profundo, o Vale do Ceira, encravado entre as serras do Carvalhal e do Rabadão. É uma simpática povoação, onde se faz sentir a frescura do Rio Ceira e sobretudo, nos faz deslumbrar com a limpidez dessas águas, o arranjo dos jardins, pelo casario a ser preservado. A Praia fluvial da Peneda tem um espaço envolvente cuidado, recentemente requalificado onde tudo se torna aprazivel. Foi por lá que desfrutei o feriado de 10 de Junho. São estes pequenos e belos lugares que me fazem valorizar a minha condição de Portuguesa.

LargoFranciscoInácioDiasNo

PonteReal-ViladeGóis

escola
(E B2,3 de Góis)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Dia do Ambiente

O Dia do Ambiente
                                                                                                                            


Lembremo-nos de S. Francisco,
o que nasceu em Assis
e falava com as águas,
com as árvores e os bichos,
sentindo-se assim feliz
por respeitar todas as coisas
que eram a sua raiz.
E o homem poluidor
do nosso tempo moderno,
destruindo o ambiente,
além de não ser eterno,
acaba sempre por fazer,
mesmo sem o querer,
da nossa vida um inferno.

José Jorge Letria

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A escolha certa

Tomar uma decisão é analisar e, ponderadamente, escolher a melhor alternativa...Estou no inicio desse processo!...

Sinto um peso enorme!...o meu, mais o das duvidas. A balança cá de casa já não aguenta!...


quinta-feira, 7 de maio de 2009

Pensamento


Li, há algum tempo, um texto de Miguel Torga (datado de Agosto de 1946) de onde retirei um pequeno extracto, que hoje, ocasionalmente, me apareceu à mão. Sei que tenho um lirismo muito próprio, alguns dirão mesmo, infantilidade utópica. (Ei, tanta adjectivação!...) seja!

Fico felicíssima quando nos escritos de grandes autores, leio confissões que transparecem um sentir semelhante ao meu. Esse estado de identificação reforça o meu pensar, o meu estar…Sinto-me real!

A minha preocupação é que quase todos eles já partiram ou envelheceram…

"...Também tenho afectos(…) Abandono tudo para correr a casa dum amigo que está com dor de dentes, e passo uma noite em claro porque operei um doente, e ele pode ter uma hemorragia. Mas a minha fraqueza maior é não poder desprezar ninguém, mesmo os próprios inimigos. São meus semelhantes, apesar de tudo, e eu não consigo descrer do homem, seja ele como for. Em vez de os esquecer, trago-os no pensamento. Sofro por eles.

A minha grande alegria é admirar os outros, e procuro encontrar em cada um as linhas positivas do seu caminho. Afinal somos todos elos de uma grande corrente, e é pelos ferrugentos que ela pode quebrar. (…)”

quarta-feira, 6 de maio de 2009

segredo

Cá para nós que ninguém nos ouve...                        
A Avaliação de Desempenho Docente, "empurrou-me" para a "nobre" função de avaliadora. Parece um papel sinistro, não?
Pois nesta altura do ano lectivo, tenho a dizer-vos que, como tal, sou uma privilegiada...
Ao observar o trabalho das colegas fiquei muito mais enriquecida. Esvaziar-me das minhas posturas e abordagens é desenvolver a capacidade de me confrontar, reflectir e auto-avaliar.
Apreciei a participação activa de 116 crianças entre 0s 3 e os 6 anos de idade. Já viram a minha sorte? Foi fantástico!...olhos curiosos...diálogos...dedos no ar...sorrisos...sugestões...palmas...grupos...traquinice...caras de pasmo...de concentração...envolvimento.

Quanto ao mau do privilégio...todos sabem! São aquelas "coisas" vulgarmente denominadas de grelhas...em que quase tudo isto é transposto para quadradinhos.(SHiuuu!...não digam nada a ninguém!...)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Animais fantásticos

                                              Diálogo entre dois meninos de 5 anos.

- Sabes, ontem fui com a minha mãe a uma loja de animais e vi lá um dinossauro pequenino!
- Os dinossauros já não existem!
- Então devia ser um Dragão bebé...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Negócio

Hoje fui a um médico...senti-me nota de €uro.
A partir do momento em que ele me viu como negócio, eu olhei-o como vulgar vendedor...
Não me trato...Ele não fecha negócio!
Há profissões em que o calculismo do lucro é uma afronta à dignidade humana.

domingo, 12 de abril de 2009

Reflexão/Confissão Pascal

Hoje dei por mim a questionar-me sobre a minha identidade cristã. Muitas vezes reprovo-me como pertencente a este grupo e, por não me rever completamente nas práticas e nos ideais. A par disso tenho muita falta de fé…não de esperança!

Hoje, ao ouvir a mensagem de Páscoa, cheguei a uma conclusão que pode ser completamente errada mas que é a minha.

Os ensinamentos Bíblicos chamam constante atenção a mandamentos e posturas de vida que deixam transparecer a identidade de um verdadeiro cristão. Mas, o maior de todos os mandamentos deixados por Jesus Cristo é, sem duvida, o amor ao próximo. Por amor ao próximo Ele viveu uma vida de benfeitor, de pacificador. Se lermos as Epístolas do Apóstolo Paulo à Igreja em Corínto, deparamo-nos com o capítulo 13, da primeira, e ficamos deslumbrados com essa suprema explicação da importância e definição do AMOR (em muitas traduções ainda apontado como caridade).

“Ainda que tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.”

Se há ensinamento que sinto que me estrutura como pessoa é este, o de amar os outros.

Gosto naturalmente das pessoas e vejo nelas as qualidades. Normalmente os defeitos demoro muito a vê-los! Por vezes só os noto quando sou alvo de uma maldade. Consigo discordar e zangar-me com uma pessoa sem que isso belisque o sentimento que tenho por ela. Rancor?...Tenho imensa pena de quem o sente. Ódio?...Apenas aguma antipatia ou zanga. Perdoar?. Sempre! Não significa que esteja cega ou que acredite que alguém mude repentinamente, mas perdoo sem reservas. Ajudar?...o quanto poder!

Sinceramente penso que estas minhas características me foram transmitidas pela educação cristã, por essas máximas de Cristo, na comunidade cristã onde cresci e no lar que tive.

Quanto à fé…nada de exemplar. Mas, o próprio discípulo Tomé teve dificuldade em acreditar na Ressurreição de Cristo, e lemos na Bíblia em João capítulo 20, versículo 29 :” Disse-lhe Jesus: Porque me viste Tomé, creste; Bem-aventurados os que não viram e creram.”

Ora eu volto a ler o último versículo da carta do Apóstolo Paulo:

“Agora, pois, permanecem a fé a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor”

Pode faltar-me todo o resto mas, não o amor. Este sentimento norteia a minha vida, mesmo a profissional! Ora sendo esta a base dos princípios cristãos, posso ficar mais tranquila com a "etiquetagem" de cristã. Não será?...

(imagem: Esposende 2008)

sábado, 11 de abril de 2009

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A cor de um encontro

Neste pouco tempo de descanso, que as "férias" escolares proporcionam, nada melhor do que sair do nosso ambiente trivial e ir por aí...pelo mundo. Ora nessa ida acabei por ter um encontro com alguns quadros de Miró. O seu surrealismo é encantador. Transmite bem estar com um não sei quê de infantil. Ainda me lembro do primeiro contacto com a existência deste artista - estavamos na década de setenta, o meu pai estava em Paris e de lá me escreveu um postal com a imagem de um dos quadros de Juan Miró...Como o tempo passa!...e o encanto perdura!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Crucificação

Estamos na Semana, chamada de Santa. Uma Crucificação importante marcou historicamente a humanidade...sobretudo a Ocidental. Quer sejamos Cristãos ou não, não negaremos a evidência de morte tão cruel. 
Este triptico de Francis Bacon tem por título, justamente, a Crucificação. É curioso como a crueldade, o corpo martirizado e "rasgado" se torna chocante nesta pintura. Senti muito mais horror do que em todas as cruzes, com Cristo pregado, que tenho visto por muitas Igrejas e Catedrais...
Embora não aprecie a pintura deste artista, que completa este ano 100 anos de nascimento, há alguns quadros que aprecio pela provocação, pelo anómalo da figura humana distorcida, pela imagem de dor e sofrimento.

sábado, 21 de março de 2009

Às vezes...


Às vezes quando menos se espera
em pleno dia de trabalho quando
a intriga aumenta e a descrença cresce
e todas as forças do cinzento
se conjugam para anular o sol

ou quando todas as palavras se degradam
no comentário na notícia no discurso
às vezes subitamente há uma corrente
um arrepio no espírito um sobressalto
um aviso que chega uma espécie de alerta.

                                              Manuel Alegre

quarta-feira, 4 de março de 2009

FINAL FELIZ


Passados meses de trabalho de Estágio e desenvolvimento da Tese, foi marcada a Sessão Pública da sua apresentação e defesa, para 26 de Fevereiro. Tu, não querias nenhuma cara conhecida a assistir a  esse momento que para ti, era de grande esforço e concentração. Acedemos ao teu pedido (ordem).
A alegria desse resultado foi comunicada por SMS á "boa gente"e dizia :
"...A defesa da Tese foi concluída e fui aprovado com classificação de 17, bem como menções de uma apresentação brilhante e dinâmica. Obrigado a todos pelo apoio."
Alguém imagina a alegria de mãe?...O orgulho de ver um filho atingir este patamar?...Acho que nem o meu próprio filho!                                                                                                                (Cláudio rabiscado pela mãe...Março/2009)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sem explicação

Inexplicável 

Inexplicavelmente…

A tristeza invadiu-me

Inexplicavelmente…

Apesar do sol, tudo é escuro                                      

Inexplicavelmente…

A música não me aquece                                        

Inexplicavelmente…

As lágrimas são a melodia da alma

Inexplicavelmente…

As palavras ficam pelo mutismo

Inexplicavelmente…

Arremessaram-me palavras laminadas

Porque… Inexplicavelmente…

Não sinto amor

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Eufemismo

"O que são rugas?

As rugas de expressão são decorrentes da contracção muscular repetida ao longo dos anos e são mais comuns ao redor dos olhos, testa e lábios. Já as rugas estáticas são produto do envelhecimento da pele."  

Definição lida em qualquer revista feminina...

Pois...

Enquanto falava com o Manuel de 5 anos, ele olhava-me fixamente e disse-me, a dada altura:

- Tens uns risquinhos na testa!

Eu, com alguma admiração, perguntei: 

-A sério? e esfreguei-a...

- É!... mas não saem! Exclamou o Manuel.

Foi então que eu sorri e percebi que eram as minhas rugas!...


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Noite sem Lua

O Rafael, de 5 anos, foi junto da professora mostrar e explicar o seu desenho que dera por terminado. Referiu que era de noite. A professora disse-lhe que não havendo nuvens, via-se a lua! Ele respondeu que, no desenho em causa, não podia desenhá-la porque embora o céu estivesse sem nuvens, a lua não aparecia porque era lua cheia...tinha enchido muito e rebentado!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Perguntas...

XXXI

A quem posso perguntar
o que vim fazer a este mundo?

Porque me mexo sem querer,
porque não posso estar quieto?

Porque rolo sem ter rodas
e voo sem asas nem penas,

e o que me deu para emigrar
se os meus ossos vivem no Chile?


in Livro das Perguntas de Pablo Neruda

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

(Re)Começar...


RECOMEÇA

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
Miguel Torga