sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Natal


Natal…da grande generalidade cultural e religiosa do termo até ao particularismo da vivência familiar…surge a essência da definição para cada um de nós. E a definição pode sentir redefenições!
Nessa minha primeira definição, o Natal nascia cada ano circundado por uma magia muito própria . Por isso, houve um tempo em que para mim as noites de Natal em família eram universalmente mágicas e felizes. O bem estar e a alegria eram enormes.
Depois houve um tempo em que descobri que podiam haver Natais tristes em muitas casas mas o meu era fantástico. Houve um tempo assim…Agora é tempo de nem sequer ter Natal, porque qual paradoxo, esse Natal morreu. O outro que agora vou viver está nu de encanto, sentimento, cor e magia…

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Família


Família…tu tens?...eu perdi-a!
Cada qual tem o seu sonho de vida, de felicidade…
Nesse meu caminho da felicidade plena, estava, sem duvida, incluída a construção de uma família.
Enquanto criança, e criança feliz, fui rodeada pelos mimos familiares e as melhores aprendizagens, experiências e recordações, foram junto dos pais, dos avós…dos tios…essas partilhas em ambiente desinibido amistoso e normal. Uma família pequenina mas feliz! Uma família onde cabia todo o tipo de escolaridade, de personalidade, de pensamento, de diálogo.
Quando chegou a minha vez de ter o meu lar, com companheiro e filhos… projetei esse bem estar que tanto me estruturou como pessoa. E a família que construí(mos) com cumplicidade, parceria e amor, tinha por base bons princípios de relacionamento, de compreensão e muito afeto. E ainda houve tempo para os netos saborearem o lar dos avós!...Entretanto o inesperado aconteceu e o meu sogro e a minha mãe morreram!...Mas não foi por isso que a família terminou!...isso são partidas impostas, mas naturais, com as quais a  família, apoiando-se, tem que viver.
Mas por mais que queiramos, a família e o nosso conceito nem sempre segue o rumo que sonhamos…e estranhamente a família nuclear quebra-se.E sente-se um enorme falhanço!
 Os laços de união que podiam continuar , perdem-se…e tudo parece errado. E desta família,  o vinculo do individualismo (egoísmo) tomou posse de todo o espaço…não mais a partilha existe…nem a compreensão! O cartão de cidadão apontará sempre a filiação mas é frio e impessoal…a família e os seus relacionamentos são muito mais do que árvores genealógicas e registos burocráticos!
Hoje não tenho família no conceito de caminhada, união, abertura, partilha e mesmo AMOR.
Não tive a sorte de ter irmãos…tenho pai…não tenho mãe…sogros falecidos...sem companheiro…cunhados afastados...filhos ausentes (mesmo sem ser por opção)…netos por chegar…vida solitária...Isto é família? Poderão ser pessoas perdidas que têm semelhanças genéticas e ligações sanguíneas...talvez algum amor! 
E eu que teorizei sempre sobre o amor conjugal como aquele que percorreria toda a vida como um fio condutor estruturante e que ficaria para além do tempo por se tratar de um amor escolhido, cuidado e aconchegante!
Vivi tantos anos, até lutei, mas perdi o sonho!...é triste!
E mesmo que os netos venham…não tenho uma família para os receber…e esse era outro sonho! Oxalá a dos  companheiros dos meus filhos tenham casais de avós felizes e unidos para lhes dar esse amor familiar, algo envolvente que tive o privilégio de viver e que é uma alegria para os avós e uma aprendizagem humanista de real afeto para os pequenitos! A vida é muito mais do que prazeres imediatos, conhecimentos, vontades próprias e caprichos pessoais! O saboroso da vida é o lastro que nos é dado pelo afeto e sobretudo em família.
Tivesse eu tempo e sonho, voltava a construir uma nova família! Só assim a vida tem sentido!
Família…tu tens?...que sorte! Faz por ela o que poderes!...Fico com inveja!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Leituras...


…Pelas ruas e estradas
Onde passa tanta gente,
Uns vêem pedras pisadas,
Mas outros gnomos e fadas
Num halo resplandecente!

Inútil seguir vizinhos,
Querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D. Quixote vê Gigantes…

Todas as visões são leituras e todas as leituras são marcadamente  culturais e pessoais e direi mesmo, circunstanciais. Cada vez  estou mais certa disto!
Nasci no Porto há muito! Vivi o Porto como cidade natal, aí cresci, me desenvolvi tendo dele uma perceção muito intimista. Uma visão de portuense, cristã, com uma forte herança familiar e simultaneamente sentindo-me cidadã do mundo. A minha visão é um misto de vivido, de herdado, de sentido e fruído pelo meu próprio percurso. Mas tendo a capacidade de me deslumbrar e comover, aprecio neste meu Porto as fachadas antigas mas sinto-o frio, triste e descuidado. E para que esse feio envelhecimento não me choque, deixei de observar tanto…percorro-o e cruzo-me com uma imensidão de pessoas sem atentar muito na sua origem. Vivo no Porto, desloco-me sem ter muito consciência disso. Mas, detalhes banais podem ganhar repentinamente outra dimensão quando partilhamos a cidade com alguém com um outro olhar. Surge um degustar diferente da cidade! E o que para uma cidadã europeia parece insignificante e banal, passa a ter outra leitura num olhar árabe vindo do deserto norte africano…E do meio da multidão anónima brotam cumprimentos árabes e vénias. E cruzam-se sorrisos com saudações francesas. Descobrimos pela primeira vez lojas que existiam há séculos! E a beleza das gaivotas é enaltecida. E procuram-se mesquitas no meio dos edifícios. Há um deslumbramento pela condução organizada e fotografam-se todas as fontes como dádivas de Deus. Observam-se as árvores ao pormenor e descobre-se que as bolotas podem ser cozinhadas em África mas aqui, não são comestíveis. E há o escândalo pela publicidade da TEZENIS a uma lingerie exposta por uma jovem semi despida, em mais de 20 expositores! E bebe-se muito chá! Nos restaurantes uma pergunta estranha quanto ao prato de carne…”Foi através de abate ritual islâmico?...não?”. As poucas camélias chamam a atenção.Nas compras em vão se discutiam preços! E a corrente do rio Douro a abraçar o mar torna-se ainda mais fascinante. As pontes magnificas! E colocar algo no lixo…para-se a perguntar qual o contentor e o porquê de tantas cores. E descobre-se que há uma enormidade de lojas com produtos típicos para turistas mas, muitos chineses e paquistaneses à mistura. E é incompreensível a estatuária no interior das Igrejas...santos? o que é isso? Só há um Deus!Compra-se uma toalha vermelha com bordados de Natal, sem saber o que é o Natal, mas a toalha é bonita e isso basta! Sente-se o frio outonal e dá-se valor à chuva mesmo estando de sandálias!

…Vê moinhos? São moinhos!
  Vê gigantes? São gigantes!

(parte do poema de António Gedeão - Impressão Digital; Foto: Said na Boavista-Porto)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O valor das coisas

Um presente caríssimo contendo algo ultra moderno que vem em todos os bons catálogos. Bonito, extraordinário, provocador de invejas a gente mesquinha, fútil, gente regida pelos espartilhos da imagem social de sucesso e moda. Quem ofereceu, muitas vezes, perdeu pouco mais de meia hora do seu dia e a prenda ficou "arrumada" com uma choruda importância. Que presente tão vistoso! Muitos pensarão que é sinónimo de muita estima, consideração e eventual amor...Aprendi que não há relação directa! 
E eu sempre preferi os presentes simples e personalizados. Alguns custaram a maior preciosidade - o tempo, o entusiasmo,o afecto e pouco dinheiro.Esses são os mais belos e valiosos!...únicos e sem marca. E estranhamente não despertam inveja!...
Há muito que não recebia um presente assim!...

sábado, 22 de setembro de 2012

deserto


Todos nós temos em mente uma série de locais a que recorremos quando pretendemos algo especifico como a diversão, o descanso, o cultuar, o aprender, obter auxilio…e facilmente um parque, um cinema, um hotel, uma Igreja, uma clínica, serão alguns desses espaços. Em determinadas ocasiões programamos momentos mais alargados e viajamos, visitando museus e povoações aprazíveis…Mas estou em crer que raramente, nas múltiplas circunstâncias, alguém aponte o deserto como um lugar de eleição.
O deserto é sinónimo de algo triste, só, cheio do vazio! Onde nem podemos comunicar com o mundo! E o mundo do deserto é simples... é um lugar árido e de extremos, tornando-se muito quente durante o dia e muito frio pela noite.
Mas no deserto vive gente! E o povo que lá vive aprende com o próprio deserto. Aprende uma sobrevivência diária e uma dependência natural do cosmos…será? E estranhamente quem lá vive diz que o deserto é belo..E o que poderá tornar belo o deserto? Já dizia o Principezinho “O que torna belo o deserto é  que ele esconde um poço nalgum lugar…”     
E eu, que ainda não visitei um deserto, sou portadora dos pensamentos de alguém que por lá vive e que consegue ouvir nesse silêncio o batimento do seu próprio coração.
E sentando-se numa duna, poderá não ver nada, apenas a imensidão…e poderá sentir sempre o infinito do céu junto ao infinito do deserto…E aí se descobre a cor do mundo, a cor mais bonita… o azul! E nesse azul escuro da noite há o deslumbramento das estrelas…e quase todas são visíveis!!!e há tempo para as apreciar sem haver relógios a pressionar…o melhor sabor do deserto talvez seja o do leite, e o que melhor aquece é o calor da fogueira…e um dos melhores prazeres será o andar descalço…e a melodia mais terna a do balir das pequenas cabras! A melhor e a mais bela  descoberta, a da água!
E a simplicidade desta vida natural torna tudo mais vivido, mais saboreado, mais valorizado…mais comunitário e solidário. E talvez faça sentido no meio de tudo isto pensar que “o essencial é invisível aos olhos”.
Por isso quando for ao deserto, vou de coração humilde, sem a pretensão da civilização.  levo comigo as últimas palavras de Antoine saint éxupery e a última imagem do livro Principezinho:
“…Olhem atentamente esta paisagem de modo a terem a certeza de a reconhecer, se viajarem um dia em África no deserto…E se vos acontecer passarem lá suplico-vos não se apressem esperem um pouco sob a estrela! Então se uma criança for ter convosco, se ela rir, se tiver cabelos dourados, se não responder quando lhe fazem perguntas, adivinharão de quem se trata. Então sejam amáveis! Não me deixem assim tão triste: escrevam-me depressa  dizendo que ele voltou…”
Hum…acredito poder encontrá-lo! A ele, a mim e a muito mais mundo!
  

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Incêndio em Caxarias - 2 Set.2012

O fumo esvoaçava como que saído de uma chaminé fabril, ondulante, castanho, espraiando-se pelo céu e cobrindo o sol da tarde. O sol...esse continuou a brilhar. Não chorou lamentando a morte do arvoredo, não tossiu com o fumo, não fugiu de medo! ficou imóvel onde estava e tornou-se redondamente vermelho, nítido e belo. Há momentos assim, em que no meio do mal há uma beleza a tocar o nosso olhar, a deslumbrar o nosso espirito.

Marrakech...


Ah aquela praça em Marrakech!...
Há locais que aumentam as pulsações, abrindo-nos sorrisos no rosto e no coração. Na praça Djema El-Fna fui abraçada pela mística ambiente. Um abraço de uma brutal sedução sensitiva. Um caos que deliciava todos os sentidos e provocava uma pulsação que constantemente me percorria. E dos sorrisos brotaram gargalhadas como nascidas dessa felicidade envolvente e desse estado de bem-estar. Toda eu vibrava! E isso do conceito europeu de bem -estar  passar por ser confortável, organizado e limpo, não me pareceu ser verídico para mim. E senti-me imensamente feliz ali! O ambiente tinha-se derramado na minha alma! E emocionei-me naquele escuro contrastante da noite. porque a noite nesta praça era multicolor. A noite tornava tudo mais belo e mágico. A noite era o cenário de todo aquele mundo...qual Babel! E por momentos eu fui parte desse mundo e uma peça também colorida.E aí respirei uma mistura de odores em simultâneo, sentindo o quente da noite, do calor humano, das mãos que me empurravam e daquelas que me queriam vender.Ouvi a mesclagem sonora de ritmos e melodias como de uma música estonteante se tratasse. E do linguajar incompreensivel que me cercava, surgiam as tentativas de comunicação. E eu estava ali para sentir e comunicar sem restrições. E o encanto da lingua francesa abriu-me portas para o mundo árabe e quanto prazer me permitiu!
Vou guardar para sempre, estas imagens, estes cheiros, estes sons, esses paladares ...esse sentir pleno.Marrakech foi uma uma enorme experiência sensorial, uma abertura de mundo.
Tenho que criar uma praça Djema El -Fna na minha vida, onde possa mesclar tudo, encontrar a magia e numa extrema intensidade, viver o bem -estar e recriar uma nova felicidade em meu ser.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Tristeza e medo...

Há muitas formas de viver as tristezas, os desgostos e tentar amenizá-los. Hoje a partida da velhinha Casimira, de quem guardo com ternura muitas expressões e ditados populares, fez-me recordar um poema de MIA COUTO. 


Medo
Quererei tudo
depois da morte.

Até lá,
quero apenas ressuscitar. 
Em cada dia,
ressurgir dos mortíferos desfechos.

Lá vem o poeta, dizem.
E abrem alas, receosos.

Não me importa:
de vivo não quero memória.

Medo tenho
é de ser enterrado sem história.       

2006

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

SORRISOS


Permanentemente grávida de sorrisos
Dou-os à luz em cada dia
Uns doces...outros tristes
partos do quotidiano
Quanta alegria e quanta dor
Para nascerem sorrisos de mim