quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sem ver

Passamos pelas coisas sem as ver

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

As Mãos e os Frutos
Eugénio de Andrade 1923-2005)

Luto contra esta falta de visão, este adormecimento de um olhar toldado pela rotina, pelo desânimo, pelo peso dos dias de tédio. Como passar por tanta coisa que nos pode estremecer de encanto, de deslumbramento e seguir com umas palas que só nos deixam ver os buracos do chão, o lixo. Até nas folhas caídas e pintadas pelo outono, apenas ver lixo...
Não haverá oftalmologista que nos valha! Chamem os poetas e a magia. Lavem o olhar...

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