sexta-feira, 25 de junho de 2010

Festas de S. João









Tradições fascinantes como a Bugiada de S. João em Sobrado, são relíquias de guardar na memória das nossas experiências de vida pelo mundo. Não fora o concurso de professores e, provavelmente, nunca conheceria uma Festa tão bonita.

A poucos quilómetros do Porto, com um santo popular também venerado na minha Cidade Invicta, com uma noitada muito calorosa, dificilmente seria cativada a deslocar-me a uma pequena vila vizinha, para um festejo Sanjoanino. Mas, o acaso do concurso levou-me até Sobrado. Quanta sorte!... Na minha alma tripeira há lugar para um S. João do alho porro, cascatas, balões e sardinhas, mas abriu-se também espaço para um S. João de Mourisqueiros, Bugios e as bandas a tocar.

Sobrado apresentando grandes traços de ruralidade, onde o dia a dia ainda corre ao sabor das estações do ano ,com habitantes pacatos e bastante humildes, nada me faria pensar que guardava uma história singular com uma representação tão fascinante, rica e colorida. Guardam um tesouro que é mostrado anualmente! A grande maioria dos Sobradenses vibram com esta festividade e nela têm um grande orgulho. Como costumam dizer, têm paixão pela Bugiada. Por isso, ir no dia 24 a Sobrado é como sermos actores e envolvermo-nos na representação de uma luta lendária ente Bugios (Cristãos) e Mourisqueiros (Mouros).

Ficamos contagiados pelo entusiamo e pela beleza desta Festa. Ver crianças bem pequenas a participar como Bugios é enternecedor e demonstra a vivência de uma tradição que tem alma. Alguns dizem que este gosto vem no sangue e perpetua-se de geração em geração.

Confesso-vos, eu devo ter levado uma transfusão!

domingo, 20 de junho de 2010

Epitáfio

Ainda correm lágrimas pelos
teus grisalhos, tristes cabelos,
na terra vã desintegrados,
em pequenas flores tornados.

Todos os dias estás viva,
na soledade pensativa,
ó simples alma grave e pura,
livre de qualquer sepultura!

E não sou mais do que a menina
que a tua antiga sorte ensina.
E caminhamos de mão dada
pelas praias da madrugada.

Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Um dia assim...

Há dias assim…lindos de tão radiantes de sol, tristes e tempestuosos no nosso interior! E ficamos ainda mais tristes por não nos sincronizarmos com a beleza natural desse dia. Nesses dias abraçamos os sorrisos, repousamos nos olhares amigos, sorvemos palavras de apreço…Há dias assim em que quase cegamos.

domingo, 13 de junho de 2010

Teorias...

A nossa percepção do mundo e das pessoas advém da maneira como o captamos. Temos a tendência natural para encontrarmos regularidades, irmos caracterizando, categorizando e assim nos apropriamos da vida em sociedade. Muitas das nossas ideias, que achamos estruturadas e correctas constroem-se destas vivências. Isto tudo para dizer que nessas “leituras” que vou fazendo de quem me rodeia, cheguei a uma “teoria”. Uma “teoria” nada científica!

Há pessoas com quem me identifico claramente em poucos minutos, outras levam algum tempo para empatizar e outras ainda, tenho que aprender a compreendê-las. Mas, como sou humana, há aquelas por quem não nutro simpatia e nem tento comunicar. Um desses grupos era, nada mais nada menos, homens de cabeça rapada. As minhas poucas experiências de convívio e as figuras públicas com esse visual confirmavam esta minha conjectura. Para mim, estes eram homens convencidos, metrosexuais, de um vaidosismo doentio que até doía de tanta prepotência. Pessoas parcas em reflexões e sensibilidades, dadas ao culto do corpo. Resumindo, pessoas desinteressantes. Ora aqui estava a minha “teoria”.

Mas…o que havia de me acontecer? Em pouco tempo conheci três homens com este visual, que derrubaram este meu estereótipo. Todos têm a cabeça redondinha de calvície opcional e são excelentes seres humanos. Os três têm como inicial do nome a letra A. São os três da mesma estatura e são de uma ternura fascinante. Foi uma sorte tê-los conhecido! Tenho por eles uma enorme consideração.

O 1º A é de Abel. Líder religioso Protestante, com 62 anos de idade. Tem uma vasta cultura histórica e é alguém com quem se pode conversar horas a fio, sem se reparar que o tempo passa. É saboroso escutá-lo. Tem um grande coração e uma sensibilidade que me toca. É literalmente um cidadão do mundo, um defensor do ecumenismo e um bom homem de fé.

O 2º A é de Alexandre. Professor em funções de Direcção, com 32 anos de idade. A sua afabilidade e o tom de voz sempre baixo são a imagem de marca. Sem vaidade, revela-se um óptimo profissional e de uma grande dedicação. É alguém de quem se gosta naturalmente.

O 3º A é de Albino. Director de uma Escola, de 43 anos. Tem uma série de atributos intelectuais a que se pode juntar a sensibilidade, o encanto, a disponibilidade. Aplica a matemática à vida…arranja tempo para tudo o que considera importante, porque o organiza.

Estes pequenos tópicos apontados para cada um, são realmente diminutos face às suas qualidades.

A minha “teoria” ruiu! Conheci estes carecas espantosos! Agora estou a pensar…será que todos os homens válidos com estas boas qualidades têm o nome próprio a começar por A ?

(Foto recolhida na Internet, de um qualquer anónimo...)

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quero sabedoria II


Este post é a conversão de um comentário do meu amigo Tsiwari, que eu aqui vos lanço como uma bela reflexão. Não conhecia este episódio. Obrigada meu amigo!

Aos 17 anos, imberbe e cândido, possuía na gaveta toda a natureza metrificada e escrita, num caderno a que pus este título de sabor botânico: Lírios do Monte. Anos depois (...) parti com um amigo em peregrinação de estudo para o campo (...) - Olha: aqui tens os abrolhos. Já os conhecias? - Não, respondia eu, em êxtase de ignorância lírica. Só sabia que abrolhos rimavam com olhos. E as boninas? As que rimam com as colinas? Onde estão? (...) Um dia encontrámos no vale uma flor entranhamente roxa. - Que é? perguntei curioso. Nunca vi essa flor! - Nem eu, respondeu o meu companheiro (...) Passados dias (meu Deus! Que vergonha!) entra-me o meu amigo pelo quarto, a gritar: - Sabes que flor é? - Não! - Não fazes ideia, pá? - Não! - Faz um esforço! - Não! - Pois ouve e não desmaies: é um lírio do monte! (...) Quando lembro este episódio e folheio, colérico, os ignóbeis Lírios do Monte, sinto ganas de ir à procura de todos os meus antigos professores do liceu para pedir-lhes explicações e quebrar-lhes a cara! (...) Vocês são os responsáveis de tudo: das boninas, das avenas, dos abrolhos a rimarem com olhos, dos lírios a rimarem com martírios e de toda a minha ignorância do mundo exterior a empurrar-me para a ilusão de só existir beleza dentro de mim.
José Gomes Ferreira, O Mundo dos Outros

sábado, 5 de junho de 2010

Quero sabedoria

" Os conhecimentos dão-nos meios para viver. A sabedoria dá-nos razões para viver.Sábias são as pessoas que sabem viver. Tolo é aquele que, tendo defendido tese sobre barcos e mapas, não sonha com horizontes, não planeia viagens, não imagina portos..."

Rubem Alves in "Livro sem fim"