sábado, 30 de março de 2013

O Respeito e os Espaços...


“Desculpe…para entrar tem que se descalçar” disse um jovem muçulmano ao olhar-me. Ia apenas em busca de informações e mesmo assim, para entrar tinha que cumprir o ritual e colocar os meus botins nas prateleiras alvas da entrada, onde alguns pares de sapatos se alinhavam.

Amadu
Obedecendo á sua exortação, descalça, logo o jovem me atendeu com um sorriso simpático e educado. Foi então que conheci o Imã Amadu Camará. Uma aproximação cautelosa e de muita desconfiança…alguns chamar-lhe-ão um termo mais simpático – prudência. Do negro do rosto o negro do olhar, forte, penetrante mas impenetrável. Olhou-me como se me radiografasse mantendo um ar severo. Sem duvida que a sua pose contrastava por completo com o jovem que me tinha recebido. Recolhidas as informações com a criançada  a aproximar-se , subi as escadas para sair. O jovem muçulmano angolano teve a gentileza de me dizer enquanto me via calçar “Sabe, esta prática corresponde a uma passagem bíblica em que Deus diz a Moisés para se descalçar porque o lugar que ele pisava era sagrado. Este é também um lugar destinado a Deus, por isso sagrado. Os sapatos que percorrem as ruas têm todo o tipo de impurezas, mesmo excremento de animal…por isso é importante procedermos assim…!”
Acenei-lhe positivamente e retribui-lhe um sorriso amável agradecendo a atenção.

segunda-feira, 25 de março de 2013

50 pessoas...MARGARIDA CRESPO



Conheci a Margarida há uma eternidade…cerca de 35 anos! Cruzamo-nos no então Liceu Rainha Santa Isabel, no Porto. Nessa altura vivíamos a turbulência da idade, das escolhas, do amor, das alegrias, das ideias em construção e das muitas interrogações sobre o futuro. Sem saber exactamente como, tornamo-nos muito amigas e as viagens de autocarro da escola para casa envolvidas nos nossos diálogos eram demasiado curtas para tanta partilha e confidência…e ficávamos na rua durante horas a falar, esquecendo a fome e as mães preocupadas, numa altura que não havia telemóveis.
A semelhança dos valores de vida depressa nos aproximou, sendo nós temperamentalmente diferentes. A Margarida sempre aventureira e decidida contrastava comigo bastante tímida e receosa. Mas a amizade nasceu assim e com muita alegria! Afirmou-se com um grande envolvimento, mesmo familiar! E como eu recordo a sua casa antiga na Circunvalação onde vivia com a sua grande e simpática família. Uma casa cheia de rostos bonitos e alegres e de imensa hospitalidade. Eu, filha única, ficava fascinada com esta grande família tão unida. Adorei conhece-los e conviver com eles. Também os meus pais guardaram um carinho especial pela “Guida”. Fruto das circunstâncias da vida, tivemos que nos separar. Uma separação que se iniciou em território português, primeiro até Coimbra e se alargou até Macau. Mas, sempre tivemos notícias uma da outra…do curso…do casamento…do nascimento dos filhos…das escolhas…Ficamos guardadas com ternura na memória uma da outra…a memória dos afectos e do que há de melhor na vida!A 21 de Março/2013 tive o privilégio de a felicitar pelos seus 50 anos de vida, através de uma surpresa de uma amiga…foi de facto emocionante. Fi-lo  com todo o sentir, enviando-lhe um enorme abraço, com a mesma amizade sincera de sempre, que o tempo e a distância não conseguem abalar.

50 anos...50 pessoas...


Iniciei em 30 de Julho de 2012 o percurso dos meus 50 anos de vida. Se atentar no número parece inacreditável! Ainda sinto muita ingenuidade e meninice e, olhar-me com meio século não parece real. Mas é com satisfação que alcanço esta idade. Todos nós traçamos sonhos e imaginamos cenários das várias etapas da vida. Desse conjunto algo se concretizou e também algo ruiu …alguns sonhos ainda por cumprir. Mas de toda esta vida percorrida muitas foram as experiências e nos vários contextos de vida muitos os relacionamentos. E, sem duvida o mais marcante foram os relacionamentos. Através deles aprendi a viver no que isso tem de variado, a compreender, a empatizar, a trocar experiências, a aceitar, a lutar, a ter prazer, alegria, paciência, também a sofrer, viver tristeza, decepção e amor. Sou o que sou, também fruto do que percorri. 50 anos vividos…quais as pessoas que mais me marcaram? Vou escolher 50, as mais importantes e vou reflectir no porquê dessa escolha.