Só de pensar nele logo um sorriso terno me curva os lábios. Tenho
a memória preenchida de muito boas lembranças. Era um homem sociável, educado,
comunicativo e brincalhão. Tinha uma personalidade vincada, por vezes austera,
mas perante as crianças e os animais transfigurava-se. A imagem que guardo é de alguém muito simpático, disponível e alegre. Convivi muito com ele nas
chamadas “férias grandes”, as férias escolares. Vivia em S. João da Madeira, o
que para mim foi um privilégio enorme. Estar na sua casinha térrea, conviver
com ele e com a minha avó Adelaide, num
ambiente rural, perto da mata, cheio de animais, com a criançada a brincar na
rua e eu com toda a liberdade para correr e andar de bicicleta, que mais poderia
eu querer? Mas tinha ainda a sua paciência para me consertar brinquedos e me
fazer baloiços e tachinhos de brincar . Levava-me ao mercado e eu, menina da
cidade, ficava deslumbrada com tudo aquilo, sobretudo com os coelhinhos, os
patos e os pintainhos que estavam para venda. Lá em casa quando as galinhas
punham ovos enfiava-me no capoeiro e gerava uma autêntica revolução aviária. Ele
ria das minhas ideias…e chamava-me “Oh rapariga!...”
Muitas vezes ía ter com ele à Subestação da UEP, onde ele
trabalhava. Entrava dentro do recinto, de bicicleta, como se fosse tudo meu. O
meu avô dizia-me muitas vezes para não fazer aquilo mas…de vez em quando
esquecia-me e o ímpeto infantil e a minha traquinice levavam-me até àquele
lugar espaçoso. Conheci os seus colegas de trabalho e ele explicou-me muitos
dos registos que fazia e dos postos de alta tensão.
Era um avô generoso. Todos os meses me dava (a mim e ao meu
primo Joel) uma quantia a que chamava de “pré” para eu comprar o que entendesse.
Na Feira do Livro, embora ele não desse um especial valor à leitura, sempre me
oferecia um livro do meu agrado. Dava-me imensos biscoitos e bolachas.
Quando vinha até casa dos meus pais, normalmente em momentos
que eles viajavam e eu ficava sozinha, sempre procurava arranjar o que estava
estragado e cuidar do jardim da casa. Desde ir ao telhado até cortar a relva…fazia
tudo!
Tinha ainda o bom hábito de estabelecer um período de dieta durante 3 dias mensais…bebia sumos, comia
muita beterraba e dizia que esses dias eram para “limpar o organismo”.Adorava
pregar-me partidas e ria-se disso com enorme satisfação.
Cuidou com extrema dedicação da avó Adelaide, que ficou
quase imobilizada durante anos. Preocupava-se imenso com ela e com o seu bem
estar…
Porque era também um homem de fé, ofereceu-me uma Bíblia, a que uso ainda hoje! Dava importância às questões espirituais e nunca me deixou fazer férias de igreja!
As falhas de memória que surgiram no fim da sua vida não o
fizeram esquecer a educação e a afabilidade. Assim, embora se esquecesse um
pouco dos bisnetos, sempre os tratou muito bem.
Foi um avô delicioso…sempre…até morrer!
Grande avó esse de nome Lélé!!!!
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