sábado, 31 de agosto de 2013

Mercados


Tenho um conceito muito próprio de MERCADO.Este conceito não provém de definições teóricas que me foram inculcadas mas de vivências pessoais por várias partes do mundo.Por isso, programar visitar o mercado de uma qualquer povoação é antever coloridos múltiplos, mistura de aromas, cheiros variados, vozes apelativas, na sua maioria uma variedade de produtos alimentares caracteristicos do lugar. É sentir que vou entrar no ritmo de pulsação desse lugar, descobrir o típico, ouvir o linguajar espontâneo, cruzar-me com a população do local. Poder ver os rostos variados dos vendedores jovens, maduros e velhos mas que vibram com a venda dos seus produtos. Captar a diferença e saber deslumbrar-me por estar ali. Um espaço vivo, popular, único, imensamente cultural e com alma. 
No velhinho dicionário da Porto Editora a definição é "lugar publico onde se compram mercadorias postas à venda; ponto onde se faz o principal comércio de certos artigos"
Talvez a minha definição tenha outra amplitude pois tem pinceladas de encanto à mistura, recolhidas pela vivências dos lugares.
Visitei há dias dois Mercados no Porto. Um foi o do BOM  SUCESSO.O edifício sofreu um belíssimo restauro. Quando entrei, tive a sensação que estava na praça da alimentação de um qualquer Centro Comercial. Onde estava o mercado? Inegável que o espaço interior reabilitado, esteja lindo. Está muito agradável, bem decorado, bem concebido. Mas do popular e vivo passou para um espaço gourmet, algo elitista, numa zona citadina já povoada de centros comerciais. Olhei então os "vendedores"...tudo gente jovem bem "arrumadinha", mesmo estilo, como costumo dizer, tipo clones de civilização.Percorri mais um pouco o mercado e descobri uma zona de talho, frutas e florista entre outros, mas demasiado "supermercanizado".Comprando rosas na florista perguntei se alguns dos vendedores eram os de outrora e a sua resposta entristeceu-me :- "não nenhum!...tudo gente nova!" Tinham reconvertido o mercado, retirando-lhe a alma, aquela pulsação popular e, qual doutrina, converteram-no à civilização dos Shoppings.
Para mim deixou de ser Mercado!
Meditando em tudo isto, ganhei coragem e entrei no degradado MERCADO DO BOLHÃO.Aí há duas formas de o olhar...ou nos centramos na estrutura decadente do mercado, cheia de escoras, plásticos rasgados e um sem numero de coisas partidas ou olhamos as bancas dos vendedores, com a fruta colorida e bem cheirosa, os frutos secos, os legumes, o pão, os queijos, o peixe, a carne, a prova de vinhos, os chás, etc etc...E então sentimo-nos num mercado. Um mercado triste, é verdade! Tinha poucos compradores (também o visitei numa tarde quente!) mas tinha o jeito popular de mercado com mulheres de avental e rugas, a vender. Foi olhando tudo isto que senti uma enorme vontade de me expressar, não podia calar este meu sentir, de uma genuína portuense como eu, que tem já a idade da Ponte da Arrábida. Por favor, não transformem o MERCADO DO BOLHÃO, num outro Centro comercial! O Porto está degradado, desabitado...reconvertam o Bolhão num verdadeiro mercado que traga alma tripeira à cidade, um pulsar genuino, portuense, caracteristico e não standartizado. Já temos centros comerciais que chegue! Talvez seguir o exemplo do Mercado da Figueira da Foz que foi reabilitado este ano e continuou com a mesma traça, com os vendedores populares e o mesmo estilo de venda.Visitei-o este verão e está muito bonito!Um local que dá uso ao nome - MERCADO.
mercado Figueira Foz - 2013
mercado Figueira Foz - 2013
Urge não matar os mercados. Urge continuar com as tradições, os vendedores, a alma de um povo que dá vida aos lugares...

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