domingo, 17 de outubro de 2010

Morrer


Por vezes penso muito na morte...sobretudo quando estou triste. A morte é irreversível mas acaba com todo o sofrimento, quer físico quer psíquico. Cruzei os meus pensamentos com estes que aqui exponho, de Rubem Alves:

"Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a “reverência pela vida” é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.

Muitos dos chamados “recursos heróicos” para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da “reverência pela vida”. Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: “Liberta-me”."

2 comentários:

tsiwari disse...

Bem... esta discussão dava pano para mangas!

No juramento de Hipócrates esquecem-se que o paciente/doente pode não querer que os médicos façam TUDO pela vida deles.

:)***

Fábia Pinto disse...

Querida Raquel,
O quanto meditei sobre este tema e sobre essa estranha forma de vida ainda há pouco tempo... é particularmente mais complicado e mais intrincado quando junto a este " fazer tudo" se junta o que diz " a religião"... Acredite que nem uma nem outra me souberam dar respostas para o que senti naquele momento... Contudo, o tempo e o desenrolar dos acontecimentos faz-nos muitas vezes alguma luz sobre este tema, a luz que nos diz, basta, é a hora do adeus. E ninguém está preparado para o derradeiro adeus.