sábado, 27 de fevereiro de 2010

Domingos Barbosa


Vivo rodeada de pessoas. Aquelas por quem passo inadvertidamente, aquelas que os horários nos comprometem a ver diariamente e, aquelas que têm uma história especial que se cruza com a minha própria existência.
Uma das pessoas marcantes que conheci, desde sempre, foi o Sr. Domingos Barbosa, agora já octogenário há uns anos! Poderia aqui tentar descrever o que o torna realmente especial. É-me difícil fazê-lo. A imensa ternura, admiração e o respeito que lhe tenho esvaziam-me de palavras correctas para o fazer. Fica uma emoção forte dentro de mim...
Sei que a sua vida brevemente terminará. Hoje em forma de desabafo e de homenagem deixo a sua foto num momento de declamação e um poema que, julgo, ele subscreveria, sem receio.

e, depois de eu morrer...
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas-- a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.
 
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.
 
                                         Alberto Caeiro

1 comentário:

tsiwari disse...

Não conhecia o poema.

Deve ter algo a ver com o Caeiro, certamente, mas eu que nunca o(s) estudei não gosto do último verso.

Pode ser intelectualmente muito marcante, o que distingue o autor, a sua marca estilística e o diabo a quatro - acho todo o poema fenomenal, excepto esse tal último verso.

Quanto ao sr. DB - é bom conhecermos pessoas assim. És uma sortuda...


:)***