Mãe, que verdade linda
O nascer encerra
Eu, nasci de ti .
Como a flor da terra !
Matilde Rosa Araújo

Metades
Metade dos beijos por receber
Metade da alegria por repartir
Metade de mim à chuva...
Metade ao sol!
Só metade senti...
Deste laranja em metade
Um amarelo azedo escorreu
O teu amor vermelho adormecido
Congelado em mim
Não derreteu...
Gelou metade de mim...
Só metade de mim
de laranja foi
vestido.
Só metade de mim
Enlutado se enegreceu.
Nas duas metades de mim
Te senti...e desejei...
Te revivi... e
busquei...
Em ambas te amei!...
Em ambas a Deus odiei!
Maio /2002
Após a sua partida escrevi vários textos como forma de
contornar a saudade. Ora aqui está uma carta:
Água de madeiros, 2 de Julho de 1996
Sabes mãe, o mar daqui continua lindo. A paisagem quase
imutável!
O pai tem continuado só e eu tenho continuado eu. Às vezes
um outro mar escorre dos meus olhos. As lágrimas são salgadas e tu sabes que eu
gosto do doce. E estou mais gorda…tenho comido muito doce. Mas nunca choro
doce, porque será mãe? Pois é isso, chorar é sempre triste, triste e amargo! A
tristeza salga e endurece a vida e , se nós deixarmos a vida fica intragável. E
tu que tinhas um riso doce e eu podia olhar-te sem engordar! Era
bom…lembras-te?
Diz lá mãe, é verdade que estás bem?é bom viver aí distante?
Não tens dor nem tristeza? Nem salgado?
Com a tua partida deixei de saber exprimir correctamente o
meu sentir. Aqui dentro de mim ficou uma tempestade e a sequência de ideias são
difíceis. É que há um mar encapelado, ruidoso, tempestuoso e salgadíssimo cá no
meu interior e as ondas viram palavras, gestos e lágrimas em turbilhão.E, por
muito que as ondas se espraiem continua uma fúria imbatível e incompreensível
em vai-vém. Quando é que vens mãe?
Tua filha
Raquel
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