terça-feira, 25 de junho de 2013

50 pessoas...CRISTINA MALLAGUERRA


Foi a escola, a idade e o acaso dessas circunstâncias que nos fizeram conhecer na primeira classe da escola primária. Menina vivaça, brincalhona e risonha...características que logo nos aproximaram. Dela, para além de múltiplas peripécias,  recordo a sua lamuria infantil na sala de aula...

-senhora professora, tenho que escrever o nome todo da minha mãe?
- sim disse a professora.
- sou uma desgraçada!
Ela que não gostava de escrever tinha uma mãe cujo nome completo possuía 10 nomes...acabei por fixar até hoje pelo insólito deste episódio - Maria Ema Isabel Trigueiro Coelho do Amaral Temudo Mallaguerra Pinto de Barros.
 Nessa altura iniciou-se uma amizade que perdurou até eu casar. Depois nunca mais soube nada da Cristina. Vivia na época, de forma bastante requintada, numa moradia perto de mim. Passei muitas tardes em casa dela, supostamente a estudar. A Cristina era uma menina incrivelmente alegre e que com a idade ganhou um enorme sentido de humor. Divertíamo-nos muito as duas quando estávamos juntas! Estudar nem tanto!...A Cristina gostava mais de diversão! Era muito querida!

50 pessoas...ANTÓNIO NUNES

A sua voz belissimamente forte e segura fazia com que eu ouvisse com todo o agrado a expressão das suas convicções, mesmo que diferentes das minhas. A sua robustez não era só física, era também espiritual, emocional...E este homem determinado natural de Armamar, de família pobre e humilde, construiu-se por ele próprio assim com esta solidez invejável. Considero que foi um lutador. Por vezes era controverso e isso, quanto a mim, tornavam-no ainda mais delicioso e valioso, embora muitos o achassem desconfortante. Não vou esquecer nunca a visita à minha mãe no IPO, num dia triste de chuva intensa. Ele e a sua querida esposa Leonor, vieram de autocarro para a confortar e nem o mau tempo e a distância foram impeditivos.Fiquei imensamente sensibilizada. Morreu com enorme fé! exemplar!...Tenho saudades dele!

50 pessoas...ABEL PEGO

Pastor da Igreja Baptista  de Cedofeita. Conheci-o há 32 anos. O seu afeto conquistou-me.Sucedendo a um Pastor mais formal e austero, surgiu num contexto diferente da minha vida, em que tinha iniciado o meu namoro com o Mané. Nessa altura ,estando eu envolvida nas atividades da Igreja, sobretudo com as crianças e o Mané com os jovens, passavamos bastante tempo juntos e tínhamos longas e agradáveis conversas. Aliás o Abel  é um comunicador nato com quem se gosta de estar. Foi ele que me casou tempos depois...Orou pedindo a benção de Deus para os meus filhos, nas Apresentações das crianças à Igreja. Dirigiu o funeral da minha mãe.Batizou os meus filhos. Esteve presente nos momentos mais marcantes da minha vida. Por isso também desabafei muito do meu sofrimento, em diversos momentos, e ele me confortou. Sempre o admirei pelo espírito de abertura ao outro, ao diferente, e à capacidade de aceitação sem radicalismos. Hoje, por circunstâncias várias, esta proximidade desapareceu, sem contudo, ter perdido a estima  e a consideração, convicta de que ele é um homem de Deus.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

50 pessoas...ANA PRISCILA ALVES

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Pequenina


És pequenina e ris ... A boca breve
É um pequeno idílio cor-de-rosa ...
Haste de lírio frágil e mimosa!
Cofre de beijos feito sonho e neve!

Doce quimera que a nossa alma deve
Ao Céu que assim te faz tão graciosa!
Que nesta vida amarga e tormentosa
Te fez nascer como um perfume leve!

O ver o teu olhar faz bem à gente ...
E cheira e sabe, a nossa boca, a flores
Quando o teu nome diz, suavemente ...

Pequenina que a Mãe de Deus sonhou,
Que ela afaste de ti aquelas dores
Que fizeram de mim isto que sou!

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

 - Continuas pequenina no meu coração materno, sendo tremendamente valiosa na minha vida. 
Será assim que se começa a falar de uma filha? O óbvio seria pela gravidez e nascimento mas, a sua história é mais do que um percurso cronológico. Falar de uma filha, como a minha, é quase um ato transcendente dissolvido entre presente e passado. Vem-me à mente outro poema,  agora de Cecília Meireles em que os versos, qual bailado, me levam ao passado da sua infância:

"Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina" (...)

E as recordações começam a romper como flashes fotográficos de momentos variados. Quantos momentos lindos! Desde as travessuras, o trepar de muros contrapondo com a sensibilidade do ballet, a timidez natural contrapondo com a boa representação teatral e mímica, a fragilidade das inseguranças e duvidas contrapondo com as perseverantes decisões e vitórias, o arrojo das viagens e a pacatez, a estada no Japão mesmo com o medo, a paciência com algumas amizades mas a frontalidade, as experiências radicais e os receios, mas sempre a afirmação de carácter...tudo isto denota características extremas mas que se equilibram...e é o equilíbrio precisamente um dos seus atributos. Outros serão a discrição, a afabilidade, enorme paciência e compreensão...Ah, a pontualidade é a sua imagem de marca ( a juntar ao profissionalismo).
A minha filha é mais do que minha e por ser ela mesma é quase celestial.Foi derramado nela algo de muito especial e a haver Anjos, ela poderá ser um!
Os seus sorrisos são de uma cândida ternura imensurável que nos contagia de enorme bem estar..." (...) um sorriso com muita luz lá dentro, apetecia entrar nele(...) pelas palavras de Eugénio de Andrade.
Os seus abraços envolvem-nos de calma, de paz...As gargalhadas sinceras fazem brotar em nós a felicidade.
A genuinidade do seu ser, bondoso, alegre e amoroso é reconfortante e contagiante.Acaso pode ela ser apenas humana? Não! Tem essa beleza celestial de alguém que se passeia entre dois universos. E, ninguém sabe, mas existem umas asas invisíveis que a fazem voar...intersectar os dois mundos, tornando o terreno muito melhor, irradiando a sua pureza de sentimentos. Ah! que nunca lhe roubem essas asas é o meu desejo e que encontre nesse voo todas as melhores pessoas do mundo!...Minha filha amada, meu Anjo!

Marrocos - 2012

                                                 


50 pessoas...CLÁUDIO FILIPE

Nasci como mãe no seu nascimento.
Nascemos!
Gémeos na inexperiência de ser, após esse momento sublime, terno e encantador, peguei o meu filho nos braços junto ao aconchego do peito e começamos a crescer. Afinal crescíamos os dois!

Filho querido, muito acarinhado, que no entanto  vivenciou as dificuldades de inicio de vida dos pais. Pais "em rodagem" nessas lides! Às vezes as dificuldades e limitações fazem despertar capacidades, marcar exigências e obrigar a uma maturidade precoce. Não sei se foi isso ou já de si a  marca da sua personalidade vincada,  mas foi um filho que muito cedo demonstrou imensa responsabilidade, autonomia, capacidade de decisão e argumentação. 
De criança guardo a alegria que irradiava ao passar, com sorrisos rasgados e comunicativos, a rapidez de raciocínio, o fascínio com que se encantava pelas coisas lutando por alcançá-las e os efusivos cumprimentos a todos os polícias que encontrava...Cresceu e as qualidades cresceram também! Apreciei a firmeza de carácter juvenil,  mesmo convivendo com uma multiplicidade de colegas, com grande diversidade de  crenças e valores.Sempre se afirmou  em variados aspetos... na representação, na música, na liderança e até no apoio voluntário a possiveis suicidas...agora na fotografia! O tempo das motas foi o mais sobressaltante que vivi...tive muito medo de o perder!Admiro a sua fidelidade a um amor e à amizade.  Mais do que os abraços e beijos que me deu (que para uma mãe são sempre poucos...), o melhor exemplo de  ternura é  a imagem carinhosa do seu braço pelo ombro da avó materna a quem sei que guardou saudosamente no mais fundo do seu coração.E este homem forte, trabalhador, decidido e empreendedor que é hoje, tem uma sensibilidade muito própria que respeito sem muitas vezes compreender. Amo-o muito. Mas estou com ele muito poucas vezes...ele já não é meu, é do mundo!
"Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar os nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo ! Ser pai ou mãe é o maior acto de coragem que alguém pode ter, porque é expor-se a todo tipo de dor, principalmente a da incerteza de estar agindo correctamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo".                          josé Saramago

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Aos meus filhos...

                     Poema Enjoadinho
Filhos...  Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos?  Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

                                                Vinicius de Moraes

terça-feira, 4 de junho de 2013

50 pessoas...MARIA EMÍLIA VAZ

Pouco tempo depois de eu chegar a Perafita, em 1992, conheci a professora a quem chamavam de Milita. Nos primeiros anos letivos trabalhei autonomamente no edifício em frente à Escola do 1º ciclo, pelo que apenas trocávamos cumprimentos de circunstância. Mas quis o destino que em 1998 iniciássemos um percurso conjunto,e a seu convite, promovessemos a instalação do que viria a ser o Agrupamento de Escolas de Perafita. Eu era então bastante mais jovem e na altura nem sempre achei bem as posições tomadas pela professora Maria Emília. Passados estes quase 15 anos, vejo tudo de uma forma mais branda...Retenho o positivo... 
 Esta foi sem duvida uma professora marcante na história da Escola do 1º ciclo do ensino básico em Perafita. Para além de professora, a partir de 1973 passou a exercer a função de Diretora e desde essa data que sempre integrou a direção da escola. Reconheço que realizou um trabalho dedicado e que tinha uma preocupação genuína pelos desfavorecidos. Tinha, para a sua idade, uma abertura à mudança que possibilitou termos uma série de projectos e de parcerias , nomeadamente com a ADEIMA. Mesmo nas adversidades que a vida lhe foi trazendo, quer pessoais, quer profissionais, sempre soube, com serenidade, fé e um sorriso, manter uma postura de firmeza, transmitindo a todos uma grande segurança.Foi para mim uma honra realizar em conjunto com a Junta de freguesia uma homenagem quando ela se reformou a 1 de Junho de 2003.
Ela tinha uma ternura especial por mim, como a uma filha! 

domingo, 2 de junho de 2013

50 pessoas...SILVÉRIO MEIRELES

Lembrar quando o conheci...é dificil. Era criança quando este senhor,  já velhinho, me chamou a atenção. Na época, para mim, era um senhor sempre muito bem vestido, usava laço e andava muito direito. Tinha um ar austero de homem bem adulto e de quem sabia bem o que queria. Mas, eis que dos bolsos desse fato clássico saíam, como que por magia, rebuçados para todas as crianças...também eu era contemplada pelas suas dádivas doces acompanhadas por um sorriso. Fui crescendo, deixei de receber rebuçados passando a receber fortes apertos de mão. A admiração que lhe tinha aumentou ao conhecer melhor a sua personalidade perseverante e decidida.Era um homem de fé que buscava sempre a Deus e procurava seguir as suas doutrinas. Tinha também imensa apetência para o teatro, algo a que se dedicava nos tempos livres. Marcou-me porque na última vez que o vi, na Igreja num domingo de manhã, ele estava a despedir-se das pessoas, com um ar calmo e terno. Dizia que sentia que ía morrer e, por isso se despedia. E na realidade sentiu bem...morreu precisamente nessa semana. Incrível!





És um Palhaço!...


O insulto pretende desvalorizar, agredir, demonstrar uma decepção de forma agressiva...

Insultar alguém de palhaço sempre me causou algum espanto e irritação.Fosse eu palhaço e insurgia-me! Sempre tive um fascínio por mimos e palhaços e na arte circense era o numero que mais me encantava.Segundo o dicionário palhaço é "personagem cómica e burlesca de circo que diverte o público com facécias...bobo...". Ser palhaço requer qualidade, arte , inteligência e capacidade de diversão. Provocar o riso genuíno no outro, com alegria através de piadas inteligentes é todo um processo comunicativo acompanhado de uma expressividade que nos captam por completo.Ser palhaço a sério,é algo nobre.
Ora adjetivar alguém estúpido, ignorante e palerma ,de palhaço é quanto a mim ofensivo. Apelidem-nos de palermas, paspalhos, mentecaptos, mas palhaços não! para mim é quase crime!
Ai quem nos dera ter um Presidente da Republica palhaço!...viveríamos muito melhor!