quarta-feira, 29 de maio de 2013

50 pessoas...VITOR VIEIRA ALVES


É bastante difícil falar do Mané num momento como este, em que a mágoa foi o legado de uma relação terminada, para mim em 2012...formalizada a meu pedido em fevereiro de 2013. Conheci-o há mais de 30 anos. Jovem "retornado" de Angola que começou a frequentar a Igreja de Cedofeita, onde começamos a conviver no Departamento da Juventude. Desse convívio brotou um amor. Como todas as paixões, começou cheia de encanto e entusiasmo e a cumplicidade foi-se gerando. Casamos a 15 de Abril de 1983. Éramos muito jovens mas determinados apesar das nossas características de personalidade bastante distintas. 
Juntos conquistamos muita coisa. Foram muitos anos...Vivemos momentos muito bonitos! Fomos felizes.
Não pondo nunca em duvida as suas capacidades, o seu profissionalismo e inteligência, o Mané  foi a pessoa que me deu as maiores alegrias e as maiores tristezas, direi mesmo, as maiores mágoas e decepções. Se com ele vivi a alegria do amor , da maternidade, da cumplicidade, da partilha, do companheirismo, do apoio na dificuldade, da educação dos filhos comuns, da valorização das minhas capacidades pessoais, do alcançar esforçado dos sucessos académicos e profissionais de cada um,das férias em família,do prazer das viagens...
aprendi também o que é a traição, a mentira, a vaidade, o convencimento e o egoísmo. E demorei a compreender isso! Pensava que havia valores que eram imutáveis e que o  sentimento que nos uniu era forte e sincero, apesar dos problemas…e olhava-o sempre de uma forma bastante “cor-de-rosa”, bastante amorosa. Nos últimos anos eu amava sózinha e não sabia. Era casada comigo própria. Mais tarde compreendi que se pode ser bom actor na vida real. Ainda hoje não suporto a ideia de ter sido enganada por uma pessoa a quem eu me entreguei fielmente e quis tanto bem.
Mas por tudo isto, ele marcou a minha vida fortemente. Gostaria de o guardar no leque das boas pessoas, de postura exemplar e sublime pelo carácter, pelo sentimento…é impossível!

terça-feira, 21 de maio de 2013

Sempre as visões

" Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. Só Vêem as belezas do mundo, aqueles que têm belezas dentro de si."                                                                                            Rubem Alves

50 pessoas...GUALDINA MARQUES


Com uma imagem de marca inconfundível - os lábios rubros e os sorrisos rasgados, assim a conheci em Perafita. Uma professora vistosa, dedicada e opinativa, sempre! Apenas trabalhei com ela durante um ano letivo, depois desenvolveu a sua atividade docente noutra  escola, deixando de privar comigo no quotidiano da vida escolar. Mas, a amizade ficou e o convívio manteve-se, embora programado. Apesar das grandes diferenças de personalidade que a igualdade de Signo me faz espantar e desacreditar no Zodíaco, sempre nos identificamos. Eu mais calma ela mais decidida!...Com ela partilhei muito da minha vida...continuo a fazê-lo!. Considero-a de facto uma amiga importante neste percurso de 50 anos.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Guerreiros


Lutam melhor aqueles que têm sonhos belos. Somente aqueles que contemplam a beleza são capazes de endurecer sem nunca perder a ternura. Guerreiros ternos. Guerreiros que lêem poesias. Guerreiros que brincam como criança.
                                                                                                                                Rubem Alves

segunda-feira, 13 de maio de 2013

50 pessoas...FÁTIMA e JORGE REIZINHO

Conheci-os quando?...não sei a data exata, devia ter 17 anos, pouco tempo depois de ter iniciado o namoro com o Mané, irmão da Fátima. Lembro-me muito bem da forma simpática como me receberam e da primeira vez que fiz uma refeição em sua casa...a famosa moamba de galinha. Foi um almoço de família com os meus sogros e também sobrinhos ainda pequenitos. Desde esse tempo acho que se estabeleceu uma forte ligação entre nós. Daquelas químicas inexplicáveis apesar das diferenças. O convívio não teve uma regularidade sistemática. Viamo-nos sobretudo em casa dos meus sogros. O que guardo destes meus, então cunhados, é o grande espírito de recomeço. Tinham vindo de África após a descolonização e quase sem nada! Tiveram que recomeçar a vida no que isso supõe de grande esforço, sacrifício e coragem. A par disso tiveram que saber lidar com a revolta interior pelo injustamente sucedido e ter a acalmia para educar os seus dois filhos.Com temperamentos muito diferentes, o bom espírito do Jorge e a inquietude dinâmica da Fátima, fizeram uma conjugação de sucesso e aí estão. Não significa que tenham enriquecido mas vivem honestamente em espírito de família. Admiro-os muito.Estão sempre prontos a ajudar. Sem duvida que guardo com enorme carinho os momentos conjuntos, salientando os Natais irrepetiveis que saboreamos durante vários anos.
Aprecio ainda o sentido artístico e estético da Fátima que se revela em várias àreas , nomeadamente na pintura. Do Jorge saliento a sua paciência,compreensão e simpatia. Ambos amorosos!

domingo, 12 de maio de 2013

50 pessoas...ROSA SANTOS

Mulher forte, decidida, destemida e com grande capacidade de trabalho. Diz sem receios tudo o que pensa, sem calar nunca o que julga injusto. Tem tanto de lutadora como de amiga. Os seus sentimentos são genuínos e por isso a admiro tanto. Ama ou detesta com a mesma intensidade. Eu professora , ela auxiliar de acção educativa com quem trabalhei de forma muito estreita , sobretudo num trabalho específico com a população do Bairro Social de Perafita. Ficamos muita amigas mantendo sempre um enorme respeito uma pela outra. A D. Rosa (assim a trato) tem por mim uma enorme amizade e consideração e isso é visível até hoje. Em momentos difíceis que passei, ela ajudou-me desmedidamente. Nunca esquecerei tamanha amizade, dedicação e solidariedade. Fazia tudo para minorar a minha tristeza. E ai daquele que dissesse algo de menos bom àcerca de mim!!!!! Foi incrível! Estamos distantes mas eu sei que continua fiel a uma amizade genuína  Talvez eu não tenha sido suficientemente grata para tamanho apoio que ela me deu. Gosto muito dela. Admiro muito o seu percurso de vida e as suas conquistas. Grande mulher!

50 pessoas...OLINDA , MARIA E ANA


Juntei estas três amigas porque, curiosamente, surgiram e permaneceram no meu percurso de vida em simultâneo. Todas professoras do primeiro ciclo  do ensino básico, conheci-as numa terra muito especial - Perafita, num Agrupamento de escolas pioneiro. Foi precisamente quando a Professora Maria Emília Vaz me convidou, em 1998 para Vice-Presidente da Comissão Instaladora desse emergente Agrupamento escolar, que todo este relacionamento surgiu. Personalidades muito distintas, desde a discrição e a generosidade da Ana, passando pela exuberante personalidade da Maria até à sensibilidade "mimalha" da Olinda, todas têm um forte traço em comum, a amizade em todas as circunstâncias. E todas temos outro traço que também nos une...a positividade e a alegria.São amigas que permanecem até hoje, que compartilharam muitos dos meus sucessos, lutas e derrotas. Sentem comigo o bom e o mau, sem juízos de valor.Apenas estão ao meu lado a rir ou a dar colo.
Passaram os anos, só eu e a Olinda ainda estamos no activo e só a Olinda ainda em Perafita. A amizade continua...

sexta-feira, 10 de maio de 2013

50 pessoas...MÁRIO CLETO

    (em S. João da Madeira nas férias)

"-Queria ter umas tranças, como a PiPi! " dizia eu que adorava as séries da "Pipi das meias altas". O meu cabelo não estava comprido e esse desejo tornava-se mais utópico. Mas o meu tio, que visitava de vez em quando o sogro, com a sua paciência e imaginação, pegou nas barbas de milho, arame  e entrelaçando nos meus cabelos, improvisou as tranças da Pipi.Duraram poucos instantes mas a alegria que senti ainda hoje recordo com ternura.
Desde pequenina que tenho pelo meu tio a maior consideração, simpatia e estima. Lembro-me de conversar muito com ele e do enorme prazer que sempre retirava. Continua a falar brandamente, com uma expressão cativante e contagia todos com as suas risadas genuinas. Não me lembro de o ver zangado!Lembro-me bem de fazer jogos, passear,ver as estrelas e de me encantar a vê-lo cortar melões em forma de cesto, para ir com a devida apresentação à mesa.
Que bom tê-lo por cá!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

50 pessoas...SILVESTRE ALVES



Chamava-lhe eu Lélé, a um avô de nome Silvestre.
Só de pensar nele logo um sorriso terno me curva os lábios. Tenho a memória preenchida de muito boas lembranças. Era um homem sociável, educado, comunicativo e brincalhão. Tinha uma personalidade vincada, por vezes austera, mas perante as crianças e os animais transfigurava-se. A imagem que guardo é de alguém muito simpático, disponível e alegre. Convivi muito com ele nas chamadas “férias grandes”, as férias escolares. Vivia em S. João da Madeira, o que para mim foi um privilégio enorme. Estar na sua casinha térrea, conviver com ele e com a minha avó Adelaide,  num ambiente rural, perto da mata, cheio de animais, com a criançada a brincar na rua e eu com toda a liberdade para correr e andar de bicicleta, que mais poderia eu querer? Mas tinha ainda a sua paciência para me consertar brinquedos e me fazer baloiços e tachinhos de brincar . Levava-me ao mercado e eu, menina da cidade, ficava deslumbrada com tudo aquilo, sobretudo com os coelhinhos, os patos e os pintainhos que estavam para venda. Lá em casa quando as galinhas punham ovos enfiava-me no capoeiro e gerava uma autêntica revolução aviária. Ele ria das minhas ideias…e chamava-me “Oh rapariga!...”
Muitas vezes ía ter com ele à Subestação da UEP, onde ele trabalhava. Entrava dentro do recinto, de bicicleta, como se fosse tudo meu. O meu avô dizia-me muitas vezes para não fazer aquilo mas…de vez em quando esquecia-me e o ímpeto infantil e a minha traquinice levavam-me até àquele lugar espaçoso. Conheci os seus colegas de trabalho e ele explicou-me muitos dos registos que fazia e dos postos de alta tensão.

Era um avô generoso. Todos os meses me dava (a mim e ao meu primo Joel) uma quantia a que chamava de “pré” para eu comprar o que entendesse. Na Feira do Livro, embora ele não desse um especial valor à leitura, sempre me oferecia um livro do meu agrado. Dava-me imensos biscoitos e bolachas.
Quando vinha até casa dos meus pais, normalmente em momentos que eles viajavam e eu ficava sozinha, sempre procurava arranjar o que estava estragado e cuidar do jardim da casa. Desde ir ao telhado até cortar a relva…fazia tudo!
Tinha ainda o bom hábito de estabelecer um período de dieta  durante 3 dias mensais…bebia sumos, comia muita beterraba e dizia que esses dias eram para “limpar o organismo”.Adorava pregar-me partidas e ria-se disso com enorme satisfação.
Cuidou com extrema dedicação da avó Adelaide, que ficou quase imobilizada durante anos. Preocupava-se imenso com ela e com o seu bem estar…
Porque era também um homem de fé, ofereceu-me uma Bíblia, a que uso ainda hoje! Dava importância às questões espirituais e nunca me deixou fazer  férias de igreja!
As falhas de memória que surgiram no fim da sua vida não o fizeram esquecer a educação e a afabilidade. Assim, embora se esquecesse um pouco dos bisnetos, sempre os tratou muito bem.

Foi um avô delicioso…sempre…até morrer!
Grande avó esse de nome Lélé!!!!



segunda-feira, 6 de maio de 2013

50 pessoas...MARIA LOBO

Uma senhora simples e afectuosa. Foi vizinha dos meus avós maternos e tinha duas filhas gémeas da minha idade. Foi assim que a conheci!Tinha uma pequenina  casa humilde onde eu adorava estar e onde brinquei muitas vezes. Chamava-me Queli e oferecia-me bolachas com o seu nome que ela nem sabia ler. E na mesa da sua sala saboreava-as como delicias raras juntamente com uma caneca de leite. Lembro do seu sorriso constante e da sua satisfação em me ver comer na sua casa. Recordo a paciência com as minhas traquinices. A simplicidade das pequenas coisas e dos pequenos gestos que deixam grandes marcas na vida da gente!

domingo, 5 de maio de 2013

50 pessoas...CASIMIRA DE LIMA


" não te aborreças, daqui a 100 anos anda cá outra gente!"



A vida passa rápido e a velhinha Casimira já não está entre nós. Faria hoje 92 anos! Guardo os seus múltiplos ditados populares, a sua história de vida, o saber estar, a sua discrição, a grande memória e lucidez. Ah! guardo também na memória o seu saboroso empadão de carne!


Não sendo uma pessoa de grandes manifestações de afetos, senti que tinha uma consideração especial por mim. Eu também a amei de uma forma muito própria. Compreendi-a para além do tempo presente, aceitei-a com todas as marcas que um passado doloroso deixou nela.Descobri que a sua personalidade era um misto de sofrimento, luta, resignação e paciência...muito pouco amor e ternura! Era uma mulher forte, sem parecer! Conseguiu viver as maiores adversidades e num mundo marcadamente alfabetizado viveu sem nunca ter ido à escola nem ter aprendido a ler segundo os padrões convencionais...arranjou as suas próprias leituras!Foi uma esposa que esteve sempre ao lado do marido. Trabalhou muito e poupou ainda mais...Sempre se preocupou com os filhos...Recordo o  último abraço que me deu, na entrada da sua casa, quase a chorar, sem ninguém ver...Recordo a última vez que a vi com vida...aí fui eu que chorei sem ela nem sequer dar pela minha presença.

Foi uma boa sogra! Guardo-a no coração!

sábado, 4 de maio de 2013

50 pessoas...ISABEL BARREIRA


Em 2006 fui colocada em Sobrado. Foi nessa altura que conheci a Presidente do Agrupamento de Escolas – Drª Isabel Barreira. Na realidade a primeira impressão não foi a melhor. Achei a Isabel alguém bastante autoritário e distante. Não tendo que privar com ela esta relação foi-se mantendo assim, marcadamente hierárquica e formal. A aproximação deu-se quando sentindo-me injustamente tratada resolvi escrever à Presidente. Senti que era alvo de difamatórias interpretações. Impôs-se um diálogo entre ambas onde tudo foi esclarecido e os juízos que fazíamos uma da outra se alteraram por completo. Assim, em 2009, inesperadamente, a Isabel convida-me para integrar a sua equipa de Direcção. Aceitei! E de 2009 até à presente data, da convivência diária, do trabalho conjunto foram-se criando laços que ultrapassaram o mero contacto profissional. Nasceu assim uma enorme simpatia que veio a crescer em amizade. Uma amizade enorme, de uma empatia invulgar. Partilhamos genuinamente as alegrias e tristezas uma da outra. E neste período de tempo deram-se brutais transformações nas nossas vidas pessoais. De tal forma a relação se estreitou que confidenciamos os mais íntimos pensamentos e os mais reservados dos segredos. Desta feita, com uma imensa ternura, a 25 de Janeiro de 2013 fiz à Belita um “pedido de irmandade”…não tendo irmãos escolhi-a para minha irmã, passando a declarar que a partir daquela data tinha uma irmã que é borboleta. Não nasceu de pai e mãe, nasceu da metamorfose da amizade.
Há pessoas que aparecem no nosso caminho nos momentos que mais precisamos…às vezes penso que Deus poderá ser o autor desses encontros…será?

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Paradoxo


Aquele cego que toca na Rua de Sta Catarina nem imagina o quanto significa para mim! Não me vê e eu vendo-o tenho visões alargadas...e ele nem sonha que me provoca visões! Um cego que dá visão a quem já vê! Os paradoxos da vida!