quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O valor das coisas

Um presente caríssimo contendo algo ultra moderno que vem em todos os bons catálogos. Bonito, extraordinário, provocador de invejas a gente mesquinha, fútil, gente regida pelos espartilhos da imagem social de sucesso e moda. Quem ofereceu, muitas vezes, perdeu pouco mais de meia hora do seu dia e a prenda ficou "arrumada" com uma choruda importância. Que presente tão vistoso! Muitos pensarão que é sinónimo de muita estima, consideração e eventual amor...Aprendi que não há relação directa! 
E eu sempre preferi os presentes simples e personalizados. Alguns custaram a maior preciosidade - o tempo, o entusiasmo,o afecto e pouco dinheiro.Esses são os mais belos e valiosos!...únicos e sem marca. E estranhamente não despertam inveja!...
Há muito que não recebia um presente assim!...

sábado, 22 de setembro de 2012

deserto


Todos nós temos em mente uma série de locais a que recorremos quando pretendemos algo especifico como a diversão, o descanso, o cultuar, o aprender, obter auxilio…e facilmente um parque, um cinema, um hotel, uma Igreja, uma clínica, serão alguns desses espaços. Em determinadas ocasiões programamos momentos mais alargados e viajamos, visitando museus e povoações aprazíveis…Mas estou em crer que raramente, nas múltiplas circunstâncias, alguém aponte o deserto como um lugar de eleição.
O deserto é sinónimo de algo triste, só, cheio do vazio! Onde nem podemos comunicar com o mundo! E o mundo do deserto é simples... é um lugar árido e de extremos, tornando-se muito quente durante o dia e muito frio pela noite.
Mas no deserto vive gente! E o povo que lá vive aprende com o próprio deserto. Aprende uma sobrevivência diária e uma dependência natural do cosmos…será? E estranhamente quem lá vive diz que o deserto é belo..E o que poderá tornar belo o deserto? Já dizia o Principezinho “O que torna belo o deserto é  que ele esconde um poço nalgum lugar…”     
E eu, que ainda não visitei um deserto, sou portadora dos pensamentos de alguém que por lá vive e que consegue ouvir nesse silêncio o batimento do seu próprio coração.
E sentando-se numa duna, poderá não ver nada, apenas a imensidão…e poderá sentir sempre o infinito do céu junto ao infinito do deserto…E aí se descobre a cor do mundo, a cor mais bonita… o azul! E nesse azul escuro da noite há o deslumbramento das estrelas…e quase todas são visíveis!!!e há tempo para as apreciar sem haver relógios a pressionar…o melhor sabor do deserto talvez seja o do leite, e o que melhor aquece é o calor da fogueira…e um dos melhores prazeres será o andar descalço…e a melodia mais terna a do balir das pequenas cabras! A melhor e a mais bela  descoberta, a da água!
E a simplicidade desta vida natural torna tudo mais vivido, mais saboreado, mais valorizado…mais comunitário e solidário. E talvez faça sentido no meio de tudo isto pensar que “o essencial é invisível aos olhos”.
Por isso quando for ao deserto, vou de coração humilde, sem a pretensão da civilização.  levo comigo as últimas palavras de Antoine saint éxupery e a última imagem do livro Principezinho:
“…Olhem atentamente esta paisagem de modo a terem a certeza de a reconhecer, se viajarem um dia em África no deserto…E se vos acontecer passarem lá suplico-vos não se apressem esperem um pouco sob a estrela! Então se uma criança for ter convosco, se ela rir, se tiver cabelos dourados, se não responder quando lhe fazem perguntas, adivinharão de quem se trata. Então sejam amáveis! Não me deixem assim tão triste: escrevam-me depressa  dizendo que ele voltou…”
Hum…acredito poder encontrá-lo! A ele, a mim e a muito mais mundo!
  

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Incêndio em Caxarias - 2 Set.2012

O fumo esvoaçava como que saído de uma chaminé fabril, ondulante, castanho, espraiando-se pelo céu e cobrindo o sol da tarde. O sol...esse continuou a brilhar. Não chorou lamentando a morte do arvoredo, não tossiu com o fumo, não fugiu de medo! ficou imóvel onde estava e tornou-se redondamente vermelho, nítido e belo. Há momentos assim, em que no meio do mal há uma beleza a tocar o nosso olhar, a deslumbrar o nosso espirito.

Marrakech...


Ah aquela praça em Marrakech!...
Há locais que aumentam as pulsações, abrindo-nos sorrisos no rosto e no coração. Na praça Djema El-Fna fui abraçada pela mística ambiente. Um abraço de uma brutal sedução sensitiva. Um caos que deliciava todos os sentidos e provocava uma pulsação que constantemente me percorria. E dos sorrisos brotaram gargalhadas como nascidas dessa felicidade envolvente e desse estado de bem-estar. Toda eu vibrava! E isso do conceito europeu de bem -estar  passar por ser confortável, organizado e limpo, não me pareceu ser verídico para mim. E senti-me imensamente feliz ali! O ambiente tinha-se derramado na minha alma! E emocionei-me naquele escuro contrastante da noite. porque a noite nesta praça era multicolor. A noite tornava tudo mais belo e mágico. A noite era o cenário de todo aquele mundo...qual Babel! E por momentos eu fui parte desse mundo e uma peça também colorida.E aí respirei uma mistura de odores em simultâneo, sentindo o quente da noite, do calor humano, das mãos que me empurravam e daquelas que me queriam vender.Ouvi a mesclagem sonora de ritmos e melodias como de uma música estonteante se tratasse. E do linguajar incompreensivel que me cercava, surgiam as tentativas de comunicação. E eu estava ali para sentir e comunicar sem restrições. E o encanto da lingua francesa abriu-me portas para o mundo árabe e quanto prazer me permitiu!
Vou guardar para sempre, estas imagens, estes cheiros, estes sons, esses paladares ...esse sentir pleno.Marrakech foi uma uma enorme experiência sensorial, uma abertura de mundo.
Tenho que criar uma praça Djema El -Fna na minha vida, onde possa mesclar tudo, encontrar a magia e numa extrema intensidade, viver o bem -estar e recriar uma nova felicidade em meu ser.