Passaram anos...
Curiosamente agora, já adulta, apaixonei-me por alguns. Na realidade encantei-me pela afirmação dos seus ideais e, só depois reparei que eram brasileiros. Um deles é Rubem Alves. Pelo nome, pensei que era um jovem. Ao consultar a sua biografia descobri que era/é um sábio…um velho sábio. Teve formação religiosa protestante e isso transparece na sua postura de vida, na sua estrutura como pessoa, embora não pareça seguir regularmente nenhuma confissão religiosa. Rubem, com formação filosófica, é, para mim, um pensador encantador porque rompe com a filosofia tradicional e mistura nela todos os seus próprios pensamentos com os seus conhecimentos teológicos, psic
Por outro lado ele considera que é necessária coragem para se exprimir o que realmente se pensa e, a velhice é essa idade por excelência. E é com essa coragem que ele critica o nosso mundo consumista virado para o utilitarismo vincado e exagerado, uma sociedade em que a inutilidade é uma palavra assustadora. O sociólogo Alvin Couldner refere que no mundo burguês as coisas e as pessoas são valorizadas em função da sua utilidade. Rubem recorrendo aos pensamentos de Santo Agostinho refere que no mundo há dois espaços (lugares), o das utilidades e o da fruição. Devemos misturá-los ao longo da vida.
Mas, falar para um grupo de velhos aposentados será falar para um grupo de inúteis? (inútil no mau sentido da palavra)
Mas, será que a vida se justifica por aquilo que produzimos?
Mas, como o que não é científico é desvalorizado e pouco credível, então até na Educação foi retirado o amor para que ela entrasse no grupo das “utilidades”, como processo objectivo de ensino-aprendizagem.
Eu concordo com Rubem, de que os velhos estão sob o domínio da graça e não sob o domínio das obras. Curiosamente esta dicotomia dividiu Protestantes e Católicos. Segundo o pensamento católico, Deus valoriza as obras como meio de se obter a salvação e alcançar o céu. O Protestantismo veio romper com essa ideia utilitária e valorizar a graça de Deus. Deus ama porque “é Amor”, sem contabilidade de obras.
Mas, muitos acharão a aposentação uma infelicidade porque não se consciencializaram para esse momento, como que caíram nele em queda livre…e, ficam à espera da morte.
Acima de tudo nunca perder a capacidade de nos deslumbrarmos perante a beleza, de nos comovermos, de viver o essencial. Essencial é fruir o que é para ser saboreado e comido por prazer e não por função nutritiva. Deus estará nessas fruições mas, não será o único, por isso Ele colocou no mundo uma infinidade de beleza, porque Ele quer a alegria dos homens. Tal como Rubem acredito que a beleza e a alegria são divinas.
O sabor da velhice pode ser um privilégio.
(foto de meu pai, um homem que sabe envelhecer... )